A câmara dos deputados retomou nesta terça, 6, a discussão sobre a reforma da Previdência – o projeto praticamente inviabiliza a aposentadoria dos jovens que estão ingressando no mercado de trabalho.
A aprovação é barbada, como anunciou nesta manhã o presidente Rodrigo Maia: em primeiro turno, foi aprovada por 379 votos a 131.
Bolsonaristas querem manter o texto aprovado em primeiro turno, enquanto parlamentares da oposição ainda tentam aprovar sete destaques que modificam a proposta original.
A combinação depressão econômica com desregulamentação das leis do trabalho é a química explosiva que vai levar os brasileiros a padecerem no futuro, sem renda nem para comprar remédio.
É o que aconteceu em países como Chile e Estados Unidos, que adotaram o modelo de “capitalização” que está sendo vendido por aqui pelo economista Paulo Guedes.
“Desculpem a sinceridade, mas essa proposta é uma fraude, uma patifaria”, diz o professor da Unicamp e economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Pelo modelo da capitalização, com as empresas se desobrigando da participação, assim como o Estado, os trabalhadores passam a contribuir individualmente para um fundo, suscetível às intempéries do mercado.
“O negócio é tão ruim que, apenas no Estados Unidos, jogou cinco milhões de aposentados na miséria. Todo esse pessoal teve que entrar com pedido de falência pessoal”, diz Belluzzo.
Ele conta que o regime geral era superavitário até 2014, quando a taxa de desemprego no país era de apenas 5%. Com a precarização do trabalho, as mudanças tecnológicas e o desejo do setor produtivo de evitar compromisso com seus empregados, a crise se instalou.
Segundo Belluzzo, a conjuntura brasileira repete o que está ocorrendo nos demais países, com a diferença de que a solução sugerida por Bolsonaro abandona os trabalhadores à própria sorte.
“Esse é um assunto que está sendo discutido no mundo todo”, diz. “As melhores soluções são as que estão sendo estudadas em países da Europa, como a França, por exemplo, que cogita a criação de um novo imposto, o imposto da solidariedade, de forma que o conceito de todos contribuírem para a Previdência seja mantido”.
Belluzzo vê certa desinformação no debate brasileiro. Especialmente pelos dados apontados pelo Governo.
“Eles falam numa economia de R$ 1 trilhão em 10 anos. Pura falácia. Não existe comprovação de que isso vai acontecer, por uma série de fatores elementares”.
Seja como for, o desmonte bateu à porta: o convencimento da população foi tão eficaz que Bolsonaro pensa em turbinar os poderes de Rogério Marinho, o secretário que comandou a operação de acabar com o direito da aposentadoria do trabalhador.