Originalmente publicado em TIJOLAÇO
Por Fernando Brito
Nada mais metafórico sobre a situação do país que a obstrução intestinal de Jair Bolsonaro.
Como ela, não é gravíssima, embora seja séria e pode ser que não se recomende intervenção cirúrgica, mas controle terapêutico severo e isolamento, prudente, do paciente.
Algo bem diferente da encenação hospitalar que estamos observando.
É preciso evitar, tanto quanto possível, que a situação inflamatória evolua para um estado infeccioso e que, daí, comprometa todo o organismo institucional, enquanto se aguarda a ocasião de, pela via eleitoral, remover-se a pústula que envenena e contamina o país.
Enquanto isso, mister ir abrindo as entranhas pútridas que, todos os dias, vão se evidenciando.
Sempre sem perder de vista que todos são deteriorações provocadas pelo mesmo agente etiológico: a incapacidade da elite brasileira de conviver com um corpo nacional sadio, harmônico e socialmente permeável.
Ao contrário, sempre pensam em torniquetes, sangrias e amputações de partes indesejáveis do que é, inevitavelmente, é o corpo da Nação.
Estão apavorados com o personagem que para isso criaram, mas não é ele o câncer, apenas a metástase da doença golpista que por anos grassou entre nós, do mal da inaceitação de que este é um país de mestiços, de uma gente que mais que na cor da pele, se miscigena na pobreza, na carência e na ‘sonhopenia”, a baixa ou inexistente capacidade de aspirar a uma vida menos dolorosa para si e para seus filhos.
Sim, apenas isso, apenas deixarmos de ser um país que é forçado a crer que o Brasil é esta m…mesmo.
Somos um país que precisa recuperar a saúde, tal como a define a Organização Mundial da Saúde, “como um estado de completo bem-estar”.
Temos de sobreviver, minimizando tanto quanto possível os danos inevitáveis, até podermos extirpar a obstrução intestinal do país e deixar que se excrete o ódio, a divisão, a estupidez, o preconceito, a podridão que se acumularam em nossas entranhas.
As instituições, sistema imunológico da democracia, seguem fracas para eliminar esta doença.
Será necessário o bisturi do voto popular e precisamos manter o país estável o suficiente para que o corte profundo que ele fará – e que é necessário – tenha sucesso.
Mais que eliminar Bolsonaro, é preciso extirpar a degeneração da qual é resultado.