O caso da ração de Doria é uma nova prova, provavelmente não a última, de que o “gestor” é um dos piores prefeitos que São Paulo jamais terá.
O problema não é o marketing em si. Todo político — e ele, apesar da propaganda, é um deles, tanto quanto um vereador de Coaraci dos Montes — faz marketing.
A questão é que Doria é uma fraude até nisso.
O evento de lançamento da tal “farinata”, repleto de padres e freiras a serviço de Dom Odilo Scherer, o vasilhame com imagem de Nossa Senhora, o papo furado de que a gororoba era abençoada, o gesto de colocar uma das bolinhas na boca e quase vomitar — não tinha como dar certo.
Doria tem pressa.
Em sua busca por se viabilizar como candidato à presidência da República, sempre subestimando a inteligência alheia, ele descuidou da forma e do conteúdo.
A ONG Plataforma Digital não tem fábrica, ninguém sabe quem é dona Rosana Perrotti, especialistas não foram ouvidos, secretários foram atropelados.
O Ministério Público abriu um procedimento para investigar a distribuição do “composto”. Segundo o promotor José Carlos Bonilha, a ideia é verificar o valor nutricional do produto.
“É nosso dever zelar pela segurança alimentar da população. Nesse momento a gente precisa entender melhor o que está acontecendo”, diz.
A vereadora Sâmia Bonfim ainda desenterrou um vídeo de 2011 do programa “O Aprendiz”, aquele em que João Doria imitava Donald Trump.
Doria aparece dando uma dura em um dos participantes. “Deixa eu só perguntar uma coisa: hábitos alimentares? Você acha que gente humilde, gente pobre, gente miserável, que lamentavelmente está nas ruas de São Paulo, vai ter hábito alimentar?”, diz.
“Você acha que alguém pobre, humilde, miserável, infelizmente, pode ter hábito alimentar? Se ele se alimentar, tem que dizer ‘graças a Deus’”.
Ele agora recua. Já foi anunciado que a coisa foi retirada da merenda escolar. Agora trata-se de dar um fim completo na “farinata”, mas sem dar muito na pinta. Deixar o assunto morrer.
É tarde demais e o estrago está feito. Para sempre o nome de João Doria estará atrelado ao termo “ração humana”.
O alcaide tem uma insensibilidade social invencível casada com mentalidade de milagreiro. Havia tentado “extinguir” a cracolândia com a PM. Faltava acabar com a fome com uma pílula feita de lixo reciclado.
Um desastre. Como diria seu mentor, rindo em alguma poltrona do Morumbi enquanto toma sua sopinha: o apressado come cru.