A concentração da mídia é um problema também na Inglaterra

Atualizado em 31 de março de 2015 às 21:58

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Por Vanessa Baird no New Internationalist.

 

A raiva e a indignação perante as farsas da Grande Mídia são altas na Grã-Bretanha hoje – graças a escândalos como o dos grampos telefônicos e, mais recentemente, a cobertura do Daily Telegraph das atividades fraudulentas de um de seus principais anunciantes, HSBC.

As propostas do Inquérito Leveson são destinadas a abordar a ética pobre da mídia, mas elas não tratam da questão chave que permitiu que continuassem os abusos e a impunidade – a concentração da propriedade.

Apesar do crescimento da mídia digital, o pluralismo não impera e a fonte de notícias e informações continua altamente concentrada nas mãos de apenas um pequeno número de big players.

Mas um novo Manifesto para a Reforma da Mídia está conclamando os políticos a prometer o seu apoio a uma série de mudanças, incluindo a limitação da participação dos meios de comunicação de qualquer empresa ou indivíduo (a cerca de 20 por cento), além da promoção e do crescimento de um ambiente de mídia mais plural.

A News Corp. de Rupert Murdoch , por exemplo, tem uma cota de 34 por cento do mercado nacional de jornais na Grã-Bretanha e uma participação na BSkyB de 39 por cento, bem como ações e investimentos em uma série de outros meios de comunicação.

O site SkyNews é um dos seis mais vistos, como a versão on-line do Daily Mail. As pessoas podem estar recebendo a metade de suas notícias on-line, mas a maioria vem de apenas algumas corporações. A imprensa regional também é dominado por apenas quatro grandes empresas, que estão fechando títulos em todo o país para aumentar os seus lucros.

“Até agora o poder da Grande Mídia ter impedido todos os políticos e os partidos de tomar medidas”, disse Tim Gopsill no lançamento do Manifesto, em Londres, na quarta-feira. “O Inquérito Leveson não é suficiente… O problema é a propriedade e o poder que os donos da mídia têm sobre os jornalistas que trabalham para eles.”

Há agora uma oportunidade de quebrar esse círculo se os políticos e os partidos tiverem coragem, acrescentou.

Um partido que tem mostrado coragem é o Verde. A vice-líder Amelia Womack anunciou que o Partido Verde comprometeu-se a “apertar as regras sobre a propriedade de mídia cruzada e certificar-se de que nenhuma empresa detém mais de 20 por cento do mercado.”

Outros apoiadores para a reforma da mídia incluem membros do partido Nacionalista Escocês (SNP), Liberais, Democratas e membros progressistas do Partido Trabalhista, como Tom Watson, John McDonnell e Jeremy Corbyn.

O Manifesto apela também para:

* Regulamentação independente, confiável e eficaz de imprensa – que incluem a exigência de que os editores operem sob uma “cláusula de consciência” que permita aos jornalistas se recusar a trabalhar sem ética, sem ser punidos por isso.

* Financiamento de órgãos de mídia independentes – incluindo a proposta de que a BBC deva ser financiado através de um imposto progressivo das famílias e que a “privatização rasteira” da emissora seja revertida.

* Proteção dos direitos de comunicação – por exemplo, proteção das fontes dos jornalistas, os denunciantes; e ausência de vigilância sem supervisão judicial. Há uma crescente ameaça proveniente de empresas privadas (Google, Facebook etc), cujo modelo de negócio é baseado em espionagem econômica, e que reúnem informações sobre usuários como uma mercadoria para fins de marketing.

* Ação sobre lobbies e transparência – os lobbies políticos com interesses poderosos são uma indústria de US $ 3 bilhões na Grã-Bretanha. Existem algumas regras que regem as suas atividades e, ao contrário dos EUA, não há exigência de lobistas divulgarem seus clientes ou atividades.

Para incentivar a pluralidade da mídia, o manifesto quer uma emenda legal para para permitir que alguns meios de comunicação operem como empresas de caridade e obtenham financiamento. Essa mídia pode incluir notícias locais, o jornalismo investigativo e a inovação digital.

As mídias alternativas independentes também podem se beneficiar de mudanças na lei, já que lutam para sobreviver em um cenário midiático cada vez mais hostil.

Houve inúmeras tentativas ao longo dos anos para passar a reforma dos meios de comunicação. Mas desta vez é diferente, diz John McDonnell: “Eu sou um pessimista por natureza, mas eu me sinto otimista. É questão importante para muitos eleitores agora”.

E para aqueles que acham que todos os meios de comunicação são como a Grande Mídia, Tom Watson tem este lembrete: “Foi o jornalismo corajoso que expôs o jornalismo corrupto.”