A líder estudantil chilena Camila Vallejo está desafiando o poder no Chile e arrebanhando admiradores.
Disse recentemente que bicicleta é uma das crenças fundamentais do Diário. Quanto mais gente anda de bicicleta numa cidade, mais avançada socialmente ela é. Bom para o planeta, bom para o ciclista no quesito saúde. Bom para todos, enfim.
Falo agora de outra crença fundamental: a educação como o mais eficiente fator de ascensão social. Boas escolas públicas são uma das armas mais eficazes para reduzir a desigualdade social: permitem aos pobres competir, em igualdade de condições com jovens ricos, no mercado de trabalho.
Mais uma vez, o Diário elege um símbolo dessa crença fundamental: a líder estudantil chilena Camila Vallejo. Camila é inteligente, articulada, combativa – e, com seu piercing no nariz, virou um símbolo mundialmente reconhecido de um Chile que clama por mudanças.
Em sua ditadura de 17 anos, o general Augusto Pinochet simplesmente destruiu a qualidade do ensino público chileno, a exemplo do que os militares fizeram no Brasil. A educação de qualidade, sob Pinochet, passou a ser um privilégio do qual os chilenos sem recursos foram simplesmente excluídos.
Isso não mudou nos anos pós-Pinochet.
O que mudou foi a atitude dos estudantes. Comandados por líderes como Camila, eles transformaram as ruas da capital Santiago num centro de protestos contínuos. A polícia tem reagido com jatos de água, mas as manifestações vão ganhando mais e mais intensidade.
Pouco tempo atrás, o presidente Sebastián Piñera – um dos cinco homens mais ricos do Chile e, hoje, também um dos mais impopulares – incendiou ainda mais os ânimos estudantis ao dizer que ensino é um “bem de consumo” como qualquer outro. A revista britânica Economist definiu Piñera recentemente como “inepto e arrogante”. (No final deste artigo, você vai encontrar um excelente vídeo da emissora Jazeera sobre a insurreição estudantil no Chile.)
Camila, uma espécie de porta-voz dos estudantes, se transformou no rosto da revolta jovem. Seu prestígio se espalhou pelo mundo. No final de 2011, Camila apareceu na lista anual das 100 Pessoas mais Influentes do mundo feita pela americana Time. Outra revista americana, a Newsweek, a sagrou uma das 150 mulheres mais corajosas do planeta. Leitores do jornal inglês Guardian a elegeram, numa enquete na internet, a Pessoa do Ano de 2011. A beleza de Camila fez que o New York Times a chamasse de “a revolucionária mais glamurosa do mundo”.
Camila tem mais de meio milhão de seguidores no twitter. (Ri sozinho ao ver esse número, pois me lembrei de ter lido que a jornalista Barbara Gancia, num bate-boca no twitter, invocou como fator de superioridade seu número de seguidores, menos que a metade dos de Camila.)
Educação pública de qualidade é, repito, uma das crenças fundamentais do Diário. Sistemas como o chileno – e o brasileiro – apenas perpetuam a iniquidade ao não dar chances aos desfavorecidos.
Por isso: palmas para a jovem, brava, inquieta Camila Vallejo. De pé.
Cla, clap, clap.