Leio Rifles, do jornalista britânico Mark Urban, da BBC. É a história de um batalhão especial das forças comandadas por Wellington, o general inglês que impôs a segunda e definitiva abdicação a Napoleão ao batê-lo em Waterloo. (Não venceu sozinho, é verdade. Alguns historiadores sustentam que Wellington estava prestes a determinar a retirada de suas forças quando os prussianos chegaram para apoiá-lo.)
Bem, esse batalhão, como sugere o nome, portava rifles, ou carabinas. Não era usual, ainda. Havia entre os militares a noção de que apenas a espada era uma arma nobre. Era um grupo inovador, o 95.o. Para ser promovido, você tinha que saber ler e escrever, o que era raro entre os soldados.
Me chamou a atenção uma máxima de Wellington. Ao sofrer um ataque, alguns carabineiros fugiram. Ele disse o seguinte: “Todos os soldados, uma hora ou outra, fogem. A questão é a rapidez com que retornam.”
Passei a admirar mais Wellington ao ler essa reflexão. Ele foi um dos raríssimos britânicos fora dos monarcas a merecer honras de chefe de Estado na morte. Isso significa um cortejo grandioso e três dias de homenagens de corpo presente em Westminster, a sede do Parlamento. No século passado, apenas Churchill foi enterrado assim. Discute-se agora se Margaret Thatcher deve também merecer esse tributo. Torço que sim.
Waterloo é uma instituição britânica, cheia de anedotas. Uma delas conta que Wellington cavalgava no final da batalha com o Visconde de Uxbridge. Um disparo se ouviu e Wellington percebeu que o visconde fora atingido. “Por Deus, você perdeu uma perna”, disse Wellington. “Por Deus, perdi”, respondeu Uxbridge. Foi feita a amputação nas imediações. Uxbridge recolheu os restos de suas perna e os enterrou em seu jardim.
Wellington tinha noção da importância dos símbolos. Uma vez, ele se surpreendeu ao ver soldados usando guarda-chuvas para se proteger do mau tempo. Proibiu-os. Disse que, fora da zona de combate, os guarda-chuvas eram aceitáveis, mas dentro eram não apenas “ridículos como antimilitares”.
Eu já me apropriara de uma frase antológica de Wellington. Alguém lhe perguntou se ele era uma determinada pessoa. “Quem acredita nisso, acredita em tudo”, respondeu.
Quando ouço uma barbaridade, logo me vem a sentença wellingtoniana. Escrevi essa frase algumas vezes em referência ao atentado de bolinha de papel sofrido por Serra.
Passo agora a incorporar também aquela outra tirada de Wellington. Vale para a vida militar e para tudo, afinal.
Todos nós fugimos de algo que nos amedronta e initimida, cedo ou tarde. A diferença é a rapidez com que retornamos.