Augusto Heleno está consagrado como o general mais fiel a Bolsonaro. Mas na manifestação encaminhada à Polícia Federal, no inquérito sobre o imbróglio da Polícia Federal com Bolsonaro, ele não confirma a queixa do chefe.
Heleno diz que Bolsonaro não teve “óbices ou embaraços” em 2019 e em 2020 para fazer mudanças na equipe da segurança pessoal da presidência.
Na famosa reunião ministerial de 22 de abril, quando gritou que iria intervir em órgãos que deveriam ser mais eficientes – e que não conseguia “trocar gente da segurança nossa no Rio” –, Bolsonaro deu a entender que se queixava da área cuidada por Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Por que Heleno não confirmou agora o que Bolsonaro disse no dia 22? Porque a verdade é o que todo mundo já informou, que Bolsonaro mexia e remexia na equipe quando bem entendesse.
Fica claro que, naquela reunião, como sugeriu Sergio Moro, Bolsonaro falava de gente da segurança ao se referir também à Polícia Federal.
Bolsonaro não estava sendo apenas sincero. Estava mostrando que é desinformado, ao avisar que pretendia controlar tudo que se refere às polícias e à área de inteligência.
Bolsonaro tinha certeza de que a Polícia Federal trabalhava para ele. E que a PF, e não o pessoal da segurança pessoal, lhe devia os tais relatórios que tanto reclamava. Inclusive relatórios sobre investigações.
Bolsonaro achava que a PF deveria informar tudo o que fazia, porque ele teria esse direito. O que ele fez naquela reunião é, antes de ser uma manifestação de autoritarismo, foi mais uma revelação do tamanho da sua ignorância.
Para Bolsonaro, PF e inteligência são tudo a mesma coisa. Isso está claro. Heleno apenas ajudou a iluminar ainda mais o que nunca foi uma dúvida.
Bolsonaro queria mexer na Polícia Federal, e não no pessoal que faz sua segurança pessoal e está sob o comando de Heleno.
A conversa está encerrada pelos esclarecimentos do general que larga notas em defesa de Bolsonaro e acompanha o chefe até em manifestações contra o Supremo. O resto é enrolação.