A solução é parar de ver futebol?

Atualizado em 2 de junho de 2015 às 16:21
Sujou
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Por Alexander Andreev, da DW.

 

Dez anos atrás eu deixei de assistir a jogos de futebol, apesar de sempre ter gostado. Já naquela época, o sistema do “futebol profissional” era asqueroso, e eu me sentia enojado.

Nem é necessário enumerar os motivos, eles são tantos: a máquina de dinheiro, alimentada por direitos de transmissão e licenciamento, por publicidade, patrocínios, ingressos e artigos para torcedores, mas também por casas de apostas ilegais e pelas transferências por valores astronômicos dos jogadores. E – como está mais claro do que nunca nestes últimos dias – no fim das contas isso tudo gera uma corrupção monstruosa.

Acrescente-se a violência excessiva nos estádios e no caminho até eles; os excessos etílicos nos dias de partidas; o vandalismo nos trens e ônibus de torcedores, nas estações e nos pontos; os hooligans e os ultras, com seu racismo e sua homofobia.

E aí há a funesta conexão entre o futebol profissional e a política em muitos países, quando ambos lucram mutuamente. E – por último, mas não menos importante – o questionável patriotismo da mão-no-peito, assim como a pressão social para que todos cantem o hino nacional.

Eu mesmo joguei futebol num clube, e por anos a fio fui fascinado por esse esporte fantástico. Posso compreender perfeitamente que bilhões de homens e mulheres deem tudo pelo futebol, que a alegria antecipada pela próxima partida da sua liga favorita os ajude a atravessar a semana. E nem todos os torcedores são, de forma alguma, hooligans, racistas ou nacionalistas propensos à violência.

Pelo contrário: em sua maioria eles são cidadãos totalmente normais, simpáticos e decentes. Também políticos e escritores, empresários e filósofos, astros e estrelas de todo o mundo são fãs declarados desse esporte.

Eles todos não só tornam o sistema “futebol profissional” socialmente aceitável, como o elevam à categoria de vaca sagrada, que ninguém pode atacar. Justamente pelo fato de o futebol entusiasmar as massas, por ser um esporte democrático e não elitista, porque para chutar o couro não é preciso gastar uma fortuna em equipamento. E, afinal, porque também é bonito de se ver. Diante de tudo isso, ninguém quer ser o estraga-prazeres.

Só que nós não só podemos, como devemos ser! À primeira vista, assistir a jogos de futebol é a ocupação mais inofensiva deste mundo. A pessoa é envolvida pela complexidade e beleza do jogo, vibra com o “seu” time e, ao mesmo tempo, esquece o dia a dia – enfim, relaxa.

Mas, com isso, o espectador inconscientemente vira cúmplice de um sistema que só sobrevive por que as Copas do Mundo mantêm um público de bilhões colado à televisão, assistindo à propaganda e acompanhando o esticado bla-bla-blá dos especialistas, comprando ingressos, figurinhas, camisetas e mais um monte de bugigangas.

Parar de sustentar voluntariamente esse sistema é uma decisão sensata e mais do que urgente. Pode soar irrealista ou arrogante: mas cada um que diz “não” ao futebol está contribuindo para um mundo melhor! Mesmo que a grande maioria das pessoas se recuse a reconhecê-lo, apesar dos últimos acontecimentos.

Reforçando: futebol é ótimo quando se joga no fim de semana, com as crianças ou com velhos amigos. E esse esporte poderia reencontrar suas raízes se nós o jogássemos ativamente, em vez de ficar só olhando na televisão, de cerveja e batata frita na mão. Por isso, minha gente: parem de ver futebol!