Em meio ao festival de relativizações absurdas, de demagogia e de ódio provocados pela morte do menino Eduardo de Jesus e do filho do governador de São Paulo, Thomaz Alckmin, um depoimento apareceu como lembrança de que tolerância não é uma palavra vazia.
Sergio de Moraes Paulo, ex-professor de Thomaz no ensino médio, escreveu um depoimento em sua página no Facebook sobre a relação de ambos. Em seguida a enviou para o Jornal GGN, de Luís Nassif.
Transcrevo-o aqui:
Fui professor do Thomaz Alckmin no Objetivo de Pinheiros no ano de 2000, quando ele cursava o segundo ano do ensino médio.
Em 2000 o pai dele, um tal de Geraldo Alckmin, foi candidato a prefeito de São Paulo e nem passou para o segundo turno.
Eu votei na Marta Suplicy, contra o Maluf.
Perguntado na sala de aula sobre meu voto, fui honesto: disse que tinha votado na Marta e não no Alckmin porque não acreditava nele.
Debochei, brinquei e tripudiei inclusive com o termo que José Simão imortalizou: “Picolé de Chuchu”. Me empolguei e acabei esquecendo que tinha o filho do candidato derrotado na sala de aula.
A molecada riu muito, pois percebeu o que o tonto do professor não viu: que o filho do homem estava na sala.
O garoto nada disse e foi extremamente sereno. Jamais foi mal-educado comigo. Sempre me cumprimentou com educação e gentileza. Nunca mais o vi pessoalmente.
A grandeza dele revelou o óbvio: era filho do vice-governador de São Paulo por herança, não por escolha.
Nunca, jamais, em nenhum momento, fui perseguido ou questionado no colégio Objetivo por conta disso.
Esse garoto poderia ter carteirado e pedido meu emprego.
Foi maior do que isso.
Não voto, não apoio e não concordo com o pai dele.
Mas me solidarizo neste momento de dor e infelicidade.
Alckmin não era ainda um cacique do PSDB, mas isso mudaria algo? A atitude de Thomaz e seu fairplay com a gozação com seu pai são dignos de nota (você agiria assim? Duvido). O fato de o professor ou os colegas não se intimidarem diante do parentesco também.
É uma pequena aula de democracia e convivência entre diferentes.
O que nos leva, igualmente, a pensar: e se fosse hoje? Quinze anos depois, um país dividido dá exemplos diários de falta de civilidade. Fotos falsas do menino Eduardo de Jesus com um fuzil foram parar na internet, como que justificando seu assassinato. A PM de SP foi usada para dizer que Thomaz Alckmin, de alguma forma, mereceu o que lhe aconteceu. A desumanidade e a estupidez não têm limites.
Naquele ano em que Thomaz tirou de letra as piadas com seu pai, nem ele, nem seu professor, nem seus amigos e nem seus inimigos poderiam supor que o debate político fosse chegar a um nível tão baixo, não poupando nem dois jovens mortos de maneira trágica.