Ronald Rios tem 27 anos e uma carreira voltada para o humor e para o jornalismo. Conversei com ele em 2009, quando fazia humor só no YouTube e, de lá pra cá, ele passou pela Jovem Pan, CQC na Bandeirantes e tinha um programa chamado “A Semana”, que ia ao ar às sextas-feiras na TV Gazeta.
O apresentador foi demitido nesta semana da Gazeta. O motivo oficial é a proximidade das eleições municipais em outubro. A razão real, segundo Ronald, é uma brincadeira com um vídeo de Edir Macedo pedindo dízimo para fiéis.
Ronald Rios teria imitado o bispo dono da Record. A Igreja Universal, propriedade de Macedo, é um dos maiores anunciantes do espaço pago da TV Gazeta.
Fomos conversar com o apresentador sobre televisão, internet e seu novo projeto de rap para o site Catarse.
DCM: Você foi demitido por ter feito uma piada com o bispo Macedo. Seu programa também ironizou figuras como Aécio Neves e outras personalidades blindadas na mídia. Você enfrentou pressões lá?
Ronald Rios: Não enfrentei, cara. A liberdade era bem boa. Não dá para ser 100% livre porque é uma TV que se preocupa com vários assuntos. E eu entendo isso. Mas, para o tipo de programa que a gente fazia, eu vou dizer que a gente durou até demais. Lógico que a gente tentava maneirar aqui e ali.
DCM: Ao fazer um jornalismo equilibrado e bem-humorado, você trouxe figuras da esquerda como a Carina Vitral, da UNE. Você acha que a televisão aberta boicota muito pautas mais progressistas?
RR: A TV aceita a esquerda sim. Mas, para cada pauta progressista, são quatro horas de Faustão.
O programa da Fátima Bernardes já recebeu gente como a Luíse Bello do Think Olga ou a Clara Averbuck, ativistas feministas que respeito muito. No programa do Serginho, o Emicida discordou de um respeitado ator branco da casa sobre uma questão racial. E isso ter entrado mostra que há boa intenção sim na televisão, especialmente porque aquele quadro é gravado.
Mas, novamente, o programa do Serginho é de madrugada e o do Luciano Huck é à tarde.
DCM: Você ficou mal com o fato da Gazeta tirar toda a programação de “A Semana com Ronald Rios” do YouTube?
RR: Cara… já fiz tanta coisa na minha vida que eu nem fiquei mal. Assim, é chato porque as pessoas querem assistir, perguntam pra mim por que sumiu. E eu não tenho nada com isso.
E como eles não fazem isso com outros programas que acabaram, fica parecendo, sei lá, que a gente saiu brigado. E não aconteceu isso. Foi tudo bem em paz. Inclusive o programa que fizemos sobre rap nacional tá no ar ainda.
Achei meio chato por questão de portifólio e só. Eu queria baixar todos os episódios. Algumas das minhas melhores piadas que fiz agora não existem mais. E eu tenho memória fraca. Então já era.
Se alguém da Gazeta estiver lendo isso, upa no Dropbox e me manda por e-mail. Quebra essa aí pro parceiro.
DCM: No Facebook, você falou que a diretoria da Gazeta é fã do Bolsonaro e você criticou ele no programa. Isso te incomodava?
RR: Não, pelo contrário. Eu achava muito bom poder falar do Bolsonaro num programa que um dos chefes da TV é fã do cara. Isso certamente não ajudou na minha imagem lá dentro, mas o fato disso nunca ter sido um impedimento mostra que a Gazeta era bem aberta. Eu recomendo trabalhar lá, de verdade.
Fui muito feliz lá, mesmo. Zoava todos os coxinhas da política e eu falava do PT também. E a gente subiu a audiência do horário em várias noites.
Foi chato mesmo o fim “do nada”. E depois a história nos bastidores que isso seria por conta da piada sobre o Bispo Macedo.
Foi muito gozado, porque estava tudo bem. Eu estava gravando chamadas para a TV, inclusive sobre campanhas de prevenção a doenças e campanhas novas pro meu próprio programa.
E, duma hora pra outra, foi “tchau”. Eu não gosto de remoer essas paradas, porque acho que guardar rancor é como deixar alguém morar na sua cabeça sem pagar aluguel. Mas a história toda bate dum jeito tão óbvio que é uma pena.
DCM: Como será o projeto Rap Cru no Catarse?
RR: Cara, o Rap Cru é uma série que a turma que curte rap se amarra, mas sai muito pouco. Então vamos levantar uma grana para garantir mais vídeos. Em vez de um a cada três meses, serão três por semana se tudo der certo.
DCM: Por que o projeto tava empacado?
RR: Porque eu trabalho como roteirista para um monte de gente e lugar. Então ou eu faço TV, ou eu faço textos pros outros. Roteiro de cinema, publicidade e muita coisa sem crédito ou com pseudônimo, tipo reescrever piadas. É consultoria de roteiro e até ghostwriter de livro teen (risos). Pelo dinheiro certo, eu escreveria a biografia do Bolsonaro. Eu só preciso me lavar toda noite depois. E receber 100 chibatadas.
Não, velho, não dá. Muda isso. Sem Bolsonaro. Bate na madeira.
DCM: Você sente saudades da época em que só fazia programas no YouTube, antes de ir pra Jovem Pan, pra Badalhoca na MTV ou no CQC?
RR: “Truth be told I had more fun when I was piss poor / I’m pissed off, and is this what success is all about?” (trecho da música Success, de Jay-Z).
Mentira, mano. Na época desse vídeo eu morava num quarto menor que a cela do Prison Break. Era lá no Complexo do Alemão e já tinha visto muita gente morrer. Já tinha visto muita arma, e muitas vezes a polícia subir. Muito tiroteio, muita invasão. Eu nunca tinha grana pra ir na esquina.
Prefiro hoje, apesar de tudo. E eu posso fazer sexo na sala.
DCM: Se te oferecerem mais oportunidades na TV aberta, vai topar?
RR: Sim. Exceto a Band, não tem nenhum lugar em que eu não aceite pisar. Abro uma exceção pra Record, por razões óbvias. Me dei bem em todos os lugares em que estive. MTV, Multishow e Gazeta. Tudo sempre foi legal.
Mas eu tô conversando só com canais de TV a cabo. São três programas em três canais diferentes.
DCM: Você cogita investir só em jornalismo ou comédia na internet?
RR: Não tenho regras e misturo as coisas às vezes. Em certas ocasiões fui “full comedian” e, em outras, “full reporter”. Eu sou os dois.
DCM: Pra VICE Brasil, você afirmou que parou de vez de fazer piada machista como comediante. Você é exceção diante do Danilo Gentili?
RR: Cara, eu acho que tem muita gente legal. Vou citar o PC Siqueira e o Greg (Gregório) Duvivier aqui. E tem mais gente. Talvez tenha mais conservadores na comédia mesmo. Mas é normal. Acho que sempre foi assim no mundo todo.
DCM – Tem algo que não perguntei e você gostaria de falar?
RR: Sei lá, tem muito jovem lendo isso aqui? Se tiver, pô, acreditem nos seus sonhos e nunca abaixem a cabeça. Meio tosco, eu sei, mas é a real. Se tiver gente mais velha, acho que eu não tenho nada para ensinar a eles.