Apesar do sucesso da conferência do clima de Paris, em dezembro passado, na qual pela primeira vez 196 países atingiram um consenso de que algo tem de ser feito para conter o aquecimento global, nossos governantes ainda estão atrelados a uma crassa miopia.
Não dá mais para acreditar que o crescimento econômico deva ser tratado como prioridade acima da crise climática. Isto é subestimar a severidade da crise e ainda por cima crer que a economia vá voltar a exibir um crescimento expressivo. Não vai acontecer. A velha economia “normal” acabou.
Não tem mais “normal”, nem na economia como um todo, ou em nossos sistemas de energia e clima. Não existem mais combustíveis fósseis baratos e fáceis de acessar. Os custos ambientais e econômicos deixaram há tempos de serem sustentáveis, e os subsídios e investimentos no setor minguam.
Quanto ao clima, a estabilidade evaporou, e se calcula que em 20 anos o mundo terá de encontrar U$ 1 trilhão por ano para estratégias de resiliência e adaptação à sua mudança. Principalmente nos países em desenvolvimento, justamente os mais atingidos e os menos responsáveis pelas emissões de gases estufa, que desde a Revolução Industrial nos trouxeram ao perigoso patamar onde nos encontramos.
Estes fatores têm implicações profundas. Mesmo com pesadas intervenções de bancos centrais e governo, com dinheiro tirado do bolso dos contribuintes, a frouxa recuperação econômica deixa à vista que há algo além do debate entre austeridade e estímulos. Há montanhas de dívidas, ganhos menores com novas tecnologias e, mais uma vez, os custos insuportáveis da mudança do clima.
É possível que evitar um desastre apenas possa ser conseguido através do foco nas pessoas – ou, nas comunidades que póssam se desenvolver dentro dos limites reais de um planeta de recursos finitos. No sistema atual, não vai dar. “Fazer com a globalização econômica funcione será de pouca utilidade se não pudermos resolver nossos problemas ambientais”, diz Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia e autor de A Globalização e Seus Malefícios.
Segundo ele, as políticas financeiras internacionais “focaram muito pouco em sustentabilidade, ou se o crescimento pode ser mantido econômica, social, política ou ambientalmente”.
Muitos colegas lhe dão razão.
Uma pesquisa feita no ano passado pelo Instituto de Integridade Política da Universidade de Nova York ouviu mais de mil economistas. Cinquenta e um por cento deles acham que a mudança do clima começará a “ter forte impacto na economia global muito em breve, em cerca de uma década”, mas 41% responderam que isto já está acontecendo.
Não é mais possível separar ambiente, sociedade e economia, de acordo com Paul Mason, autor do importante Postcapitalism. Isto leva a uma abordagem estreita da realidade “enquanto questões ligadas à sociedade que mais provalmente desafiarão a estrutura sócio-econômica existente são muito marginalizadas, em particular a sustentabilidade das comunidades e a manutenção da diversidade cultural”.
“Não somos donos da Terra. Todas as sociedades são meramente seus ocupantes, seus usuários. E, como bons zeladores, devemos entregá-la melhorada para as gerações siubsequentes”, escreveu Karl Marx, mais de cem anos antes de a médica e diplomata dinamarquesa Gro Brundtland repetir quase que literalmente a citação no hoje incensado relatório Nosso Futuro Comum, de 1987.