A vitória de Trump. Por Jeferson Miola

Atualizado em 6 de novembro de 2024 às 18:56
Donald Trump. Foto: Reprodução

Donald Trump desbancou as pesquisas eleitorais, a mídia em geral e as expectativas de uma eleição acirrada. Ele acabou vencendo a eleição no voto popular e no colégio eleitoral, o que contrariou todas as previsões de violência política e conflito social em caso de derrota dele.

Trump foi eleito apesar das –ou devido às– suas propostas aberrantes, dos seus negacionismos absurdos e dos retrocessos civilizatórios que defende.

Ele foi absolutamente transparente. Daqui a alguns meses, durante seu governo, quando suas políticas serão implementadas, ninguém poderá alegar que não sabia o que poderia acontecer.

Trump venceu inclusive entre eleitores negros e latinos, apesar da campanha radical contra imigrantes, tratados como criminosos e causas de todos os males do país.

Ao contrário de Kamala Harris, penalizada em Michigan pela comunidade árabe-americana crítica à participação da Administração Biden no genocídio palestino, Trump não foi prejudicado pela reiteração permanente de sua retórica racista e xenófoba.

A vitória de Trump também desdiz o mantra de que a situação econômica favorável do país é quase um passaporte seguro para o sucesso eleitoral. A sensação econômica concreta das pessoas falou mais alto que o medo dos desatinos dele.

Vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris. Foto: Martin Divisek/EFE/EPA

Apesar dos índices econômicos exitosos do governo Biden/Kamala –desemprego baixo, crescimento salarial e aumento do PIB–, Trump conseguiu capturar o mal-estar econômico “invisível”, porém sentido pela maioria da população, em especial a classe trabalhadora empobrecida.

Trump diz que ganhou um “mandato poderoso”. E isso não pode ser considerado um exagero. O Partido Republicano conquistou a maioria no Senado e se encaminha para formar maioria também na Câmara de Deputados/Representantes.

Além disso, Trump conta com apoio majoritário dos juízes da Suprema Corte, que há alguns meses concederam a ele imunidade presidencial em relação a crimes cometidos na presidência dos EUA.

Controlando o Departamento de Justiça, Trump conseguirá anular os processos criminais promovidos pelo Executivo e nos quais é réu, além de interferir no sistema de justiça para reverter condenações, como no caso da tentativa de suborno da atriz pornô.

A vitória de Trump é uma notícia ruim para a Ucrânia e para os países vassalos da OTAN, mas é acima de tudo aterrorizante para o povo palestino, com riscos de expansão da agressão nazi-sionista no Irã.

A vitória de Trump fortalece a força-movimento fascista e de extrema-direita no mundo e aumenta o poder desregulado e desmensurado das big techs, que são o motor de tração da ultradireita, em especial a plataforma “X”, do bilionário Elon Musk, que o presidente eleito considera “um cara incrível”, “uma nova estrela”.

Trump elegeu como vice um ultradireitista jovem e radicalizado ideologicamente. James David Vance, o JD Vance, de 40 anos, significa ao mesmo tempo a renovação geracional e a alternativa de sucessão política do extremismo.

A eleição de Trump afeta muitos interesses mundiais e, também, brasileiros, como o foco central da nossa política externa na emergência climática, em relação ao que o presidente eleito cultiva uma visão negacionista e conspiracionista.

O protecionismo que Trump adotará na economia, sobretudo em relação à China, causará aumento de preços internos e, igualmente, da inflação, e poderá causar o aumento da taxa de juros internos pelo FED, com efeitos para o Brasil.

A rivalidade truculenta com os BRICS e a China impactará a economia brasileira, que poderá perder espaço no mercado estadunidense, seu segundo parceiro comercial, devido à imposição de altas taxas de importação. Isso poderá provocar aumento da pressão sobre os juros devido à dependência estrutural do país de capitais especulativos, o que é um defeito congênito do Plano Real.

A segunda metade do governo Lula não poderia se desenrolar em cenário mais preocupante, com Trump nos EUA e Milei na Argentina – que, aliás, será fortemente apoiado pelo FMI na consecução das suas políticas ultraliberais destrutivas.

Independente da relação entre as presidências do Brasil e dos EUA, que, supõe-se, de parte de Lula terá uma postura institucional, a conexão política e de amizade de Trump com lideranças fascistas e ultradireitistas do Brasil, tanto civis como militares, será fonte de dores de cabeça e de preocupação em relação à eleição presidencial de 2026.

Publicado originalmente no blog do autor

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