Dia desses, uma amiga resolveu passar o feriado no Litoral Norte de São Paulo. Ela é separada. Ia com os dois filhos, um de 6 e outro de 9 anos. Queria uma pousada sossegada e estava disposta a pagar bem por isso. Não foi fácil. Vários endereços deixavam clara sua policy: não aceitavam ninguém menor de 12 anos. A justificativa era a de que se tratava de um local romântico. E basta.
Ok. É direito do comerciante não vender para quem ele não quiser. Difícil de engolir é essa história de hotel “romântico”, seja lá o que isso quer dizer, não combinar com criança. O que significa? Que, mais que hospedagens, esses endereços seriam, provavelmente, ninhos para acasalamento. A piscina é iluminada à luz de velas perfumadas. As paredes são forradas de veludo. A cama é redonda. Wando e Kenny G nos alto-falantes. É obrigatório que o desempenho sexual dos hóspedes seja impecável. Fico imaginando o que você faz ao encontrar seus vizinhos de alcova. Dá uma piscadela cúmplice? Claro que um garoto de 8 anos, o qual só pensa em futebol, poderia estragar o clima erótico, ainda que ele seja um anjo.
Tais hotéis partem do pressuposto de que toda criança é mal-educada e não sabe se portar, especialmente diante de casais apaixonados. Ao ver dois pombinhos no café da manhã, uma menina iria até eles e perguntaria quem é o homem e quem é a
mulher. Ou, pior, como são feitos os bebês. Melhor proibir essas pestes de frequentar o ambiente.
Muitos destes estabelecimentos têm até placa: “Crianças não entram!” Na Noruega, já existem estabelecimentos que não permitem que brasileiras sozinhas se hospedem. Vamos importar essa tendência e ampliá-la. Estou vendo a hora em que surgirão hotéis que não aceitam hospedar velhos, negros, judeus, anões, ciganos, alemães, são-paulinos e corintianos. Tudo em nome do romance.