Abolição de livros em SP é “grande erro”, diz ao DCM ministra sueca que revogou digitalização do ensino

Atualizado em 2 de agosto de 2023 às 15:54
Ministra sueca das Escolas Lotta Edholm. Foto: Poltikerveckan Almedalen/Wikimedia Commons

A ministra sueca das Escolas Lotta Edholm criticou, em entrevista ao DCM, os anúncios dos governos do Paraná e de São Paulo de digitalizar os métodos didáticos escolares. Eu acredito que, a partir da experiência sueca, isso seria um grande erro. O computador não pode substituir um livro de papel”, diz.

Ela foi a responsável pela nova coalizão de governo de direita por retomar em dezembro passado o uso de materiais didáticos em papel depois que a Suécia optou por digitalizar os métodos de aprendizado escolar ao longo de 15 anos. 

Uma literatura científica crescente mostra que a compreensão de leitura a partir de um tablet ou de uma tela é menor do que a de um livro em papel”, aponta.

“Pensou-se que quanto mais livros digitais, ou métodos de ensino, as regras do jogo seriam igualizadas. Em vez disso, há sinais de que isso alimentou a desigualdade nos resultados do ensino”, afirma.

Se no Brasil se sabe que o secretário de Educação de São Paulo Renato Feder foi sócio de uma empresa de tecnologia, a ministra Lotta Edholm aponta sinais de benefício maior para as empresas do que para as crianças. “Algumas grandes empresas ganharam muito dinheiro vendendo tablets sem grande suporte científico para esses métodos”, diz.

DCM: Por que as escolas suecas substituíram livros em papel por livros digitais ao longo de 15 anos?

Lotta Edholm: Geralmente se diz que o inferno está cheio de boas intenções. Eu acredito que é o caso da digitalização das escolas na Suécia. Pensou-se que quanto mais livros digitais, ou métodos de ensino, as regras do jogo seriam igualizadas. Em vez disso, há sinais de que isso alimentou a desigualdade nos resultados do ensino.

DCM: Por que, no ano passado, a senhora decidiu mudar essa política?

Lotta Edholm: Uma literatura científica crescente mostra que a compreensão de leitura a partir de um tablet ou de uma tela é menor do que a de um livro em papel.

DCM: Essas gerações de crianças ficaram menos inteligentes?

Lotta Edholm: Isso não foi estudado, até onde sei. O que foi estudado é que as crianças que tinham computadores pessoas tiveram resultados inferiores aos de crianças que não tinham.

DCM: Considerando essa experiência, quais são os riscos da inteligência artificial para a educação e a sociedade?

Lotta Edholm: Apenas porque a inteligência artificial será importante no futuro mercado de trabalho não deveria significar que devemos jogar fora livros físicos ou escrever em caneta e papel nas escolas.

DCM: Houve um risco de que a antiga política tenha beneficiado mais as empresas digitais do que as crianças?

Lotta Edholm: Há sinais disso. Eu sei que algumas grandes empresas ganharam muito dinheiro vendendo tablets sem grande suporte científico para esses métodos.

DCM: Qual tem sido a recepção da sociedade, e em específico das crianças, ao retorno dos livros em papel?

Lotta Edholm: Em todo lugar aonde vou, professores, pais e crianças estão contentes em ter livros em papel.

DCM: Os governos dos estados brasileiros de São Paulo e Paraná querem abolir o uso de livros em papel nas escolas para privilegiar os digitais. A senhora acredita que isso vai na direção certa?

Lotta Edholm: Eu acredito que, a partir da experiência sueca, isso seria um grande erro. O computador não pode substituir um livro de papel.