Acordo entre Maduro e parte da oposição aponta um caminho na Venezuela. Por Maringoni

Atualizado em 17 de setembro de 2019 às 15:24
Maduro e o chanceler Jorge Arreaza

Esta reportagem foi financiada através de um crowdfunding do DCM

A Venezuela vive neste começo de semana duas situações em que governo e oposição buscam medir forças. Os objetivos apontados são distintos.

A PRIMEIRA é a tentativa do oficialismo em romper seu isolamento, voltar a ter voz na Assembleia Nacional e se mostrar aberto ao diálogo. O passo se deu com um acordo selado entre o Executivo e quatro partidos de oposição.

São eles o MAS (Movimento ao Socialismo), Avanzada Progressista, Soluciones para Venezuela e Cambiemos. Trata-se de pequenas agremiações integrantes da grande frente oposicionista que venceu as eleições parlamentares de 2015.

A SEGUNDA é um novo conjunto de protestos de rua, apoiados pelos setores mais duros da oposição, liderados por Juan Guaidó.

DISSIDÊNCIA MINORITÁRIA

O presidente conseguiu juntar uma dissidência que congrega 9 deputados. A mesa de Unidade Democrática (MUD), coalizão direitista de oposição, soma 90 parlamentares. Outros sete partidos, também contrários ao palácio de Miraflores, articulam um bloco de 22 cadeiras. No total, a oposição junta 122 assentos em uma Assembleia Nacional de 167 integrantes.

Esse é o Legislativo que saiu das eleições de dezembro de 2015, segundo ano do governo Maduro, quando a crise dos preços do petróleo estava em seu auge. Até hoje, é a maior derrota do chavismo, desde a eleição presidencial de 1998.

Esse pleito também está na raiz de toda a contenda política atual da Venezuela. Para compensar a derrota, Maduro convocou a Assembleia Constituinte. A ideia era criar um poder acima do Legislativo.

EXTREMISTAS FORA

O diálogo estabelecido entre governo e fração da oposição carrega grande valor simbólico. Os quatro partidos ali presentes não partilham das posições extremistas da maioria do bloco, alinhada a Juán Guaidó. Este matem estreitas e públicas ligações com o governo de Donald Trump.

Nas eleições presidenciais de 2018, os setores que selaram o acordo com o governo apoiaram Henri Falcón, oficial do exército que chegou a integrar a cúpula do PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela), liderado por Hugo Chávez e rompeu com este em 2011.

Falcón obteve 20,93% dos votos, numa disputa vencida por Maduro, com 67,84% dos sufrágios. A oposição mais dura à direita recusou-se a participar do pleito, alegando irregularidades.

Sem condições de resolver a dramática situação econômica, o governo busca ampliar sua base de apoio interno, visando governar com um mínimo de previsibilidade de ação.

Segundo o noticiário da TeleSur, o PSUV passará a participar das reuniões da Assembleia Nacional, de onde se retirou a partir da posse da Constituinte, em agosto de 2017.

Assim, a decisão de agora representa grande avanço. Ainda segundo o noticiário, o demais pontos de entendimento são realizar mudanças no Conselho Nacional Eleitoral e tomar medidas que beneficiem pessoas detidas em protestos públicos, além do estabelecimento de uma política de troca de petróleo por alimentos e medicamentos no mercado internacional.

MARCHA DE PROTESTO

Os liderados de Guaidó não apenas se recusaram a estabelecer tais pontes de contato, como promoveram nova marcha de protesto no centro de Caracas, nesta segunda (16). Reprimida pelas forças de segurança e interrompendo várias vias expressas, as manifestações têm objetivo claro.

Trata-se de manter a temperatura interna elevada a qualquer custo, após a aprovação pela OEA, na semana passada, do TIAR (Tratado Interamericano de Ajuda recíproca), que abre caminho para uma intervenção militar externa no país.

Temir Porras, ex-assessor de Hugo Chávez e Nicolás Maduro na presidência, hoje vivendo na França, escreveu em seu Facebook ser “Positivo que os deputados do PSUV voltem para a assembleia (…) e que haja acordos entre o governo e opositores, mesmo que sejam minoritários.

Mas não se resolve o problema principal, que é entre o governo e o G4 (grupo de quatro partidos que compõe a MUD)”. E emenda: “Parem de perder tempo e sentem-se de novo com os noruegueses”. A referência é ao conjunto de negociações mediadas pela Noruega – um dos poucos países neutros na crise venezuelana –, sediadas em Barbados.

Os entendimentos foram interrompidos por Maduro no final de julho, quando Donald Trumpo elevou ao extremo o embargo econômico contra o país. Agora é Juan Guaidó – fortalecido pela Casa Branca e pela OEA – quem não quer acordos. Tudo indica que prefere uma solução de força. É o pior dos caminhos.

ACORDOS SÃO VITÓRIA DA POLÍTICA SOBRE AS AMEAÇAS

Carlos Ron, viceministro das Relações Exteriores, me mandou esta declaração:

Hoje teve um importante anúncio para o país. A criação de uma Mesa de Diálogo Nacional é um grande avanço que mostra o carácter democrático da maioria do povo venezuelano e do compromisso com o interesse nacional do governo e da parte da oposição.

Esses acordos representam um vitória para a Paz e para a constituição e mostram o isolamento daquele setor comprometido com interesses transnacionais e que chamam a uma intervenção militar e a mais medidas de coerção dos EUA. Os eventos de hoje são uma vitória da política por acima das ameças e da violência.

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