Se existe algo mais previsível do que o nascimento do sol em toda manhã é a capacidade da dupla Gilmar Mendes e Aécio Neves para enxovalhar uma democracia.
Não falham jamais.
Sempre em absoluta sintonia, os dois já descobriram o culpado pela crise deflagrada pela descoberta do crime de tráfico de influência cometido pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima.
É Marcelo Calero.
A estratégia de matar o mensageiro e tentar abafar o caso resultou, como soi acontecer em se tratando de GM e AN, em declarações tão cínicas que, no final das contas, têm o efeito contrário.
Um governo já incompetente e ladrão, com defensores como eles, não precisa de inimigos.
Depois de uma reunião do PSDB, Aécio conseguiu falar que “nem de longe” Temer foi atingido.
Para ele, “se confirmado isso, há algo aí extremamente grave que também tem que ser investigado, o fato de um servidor público, até aquele instante de confiança do presidente da República, com cargo de ministro de Estado, entrar com um gravador para gravar o presidente da República.”
Emendou na frase do ano: “Na minha avaliação, do PSDB, nem de longe esse episódio atinge o senhor presidente Michel Temer.” Os tucanos mantêm, portanto, a estratégia de tentar deixar o bando de Temer sangrando até 2018.
O amigo Gilmar preferiu cravar que as denúncias “estão sendo magnificadas” e que a gravação de Calero — desmentida pelo próprio — “é um fato que vai para o Guinness”.
“Um profissional, do ministério, do Itamaraty, tenha este tipo de conduta suscita realmente bastante preocupação”, afirmou.
“Mas eu acredito que este episódio será tratado pelos meios adequados e terá o devido encaminhamento. Nós temos crises maiores e temos desafios maiores do que um episódio relativo a um flat longínquo numa praia aí da Bahia”.
Essa é a lógica da lei do silêncio da máfia. Calero, segundo essa leitura, deveria ter engolido o choro, aceitado a pressão do presidente e de seus auxiliares mais barra pesada e feito o que se esperava dele: ser cúmplice.
Nem o próprio Geddel concorda com o juiz em minimizar seu ato, ou não teria pedido demissão.
Calero deixou um recado em sua conta no Facebook: “No episódio que agora se torna público, cumpri minha obrigação como cidadão brasileiro que não compactua com o ilícito”.
A ver quais suas intenções. Golpe tucano dentro do golpe? Se for, faltou combinar com o chefe. De todo modo, não merece o Guiness. Apenas fez a coisa certa, o que não é pouco na pocilga de Temer.