Aí estão, com diplomas na mão, as novas caras medonhas do Congresso. Por Moisés Mendes

Atualizado em 20 de dezembro de 2022 às 6:54
Congresso Nacional – Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

As cerimônias de diplomação dos eleitos para o Congresso e as Assembleias transformam em provas presenciais um incômodo para as esquerdas. A extrema direita está aí, renovada e feliz.

O fenômeno da renovação ultraconservadora de bancadas federais e estaduais é uma realidade a ser melhor avaliada em duas situações próximas, concretas e inevitáveis.

Primeiro, pelo que se verá logo da capacidade de organização desses grupos nos espaços em que vão atuar, pela primeira vez, desde a ascensão do bolsonarismo, na condição de forças da oposição.

Segundo, pelo teste de influência e interferência numa eleição municipal, em 2024, que não será diretamente deles, mas que pode definir muito do que é afinal o tamanho da extrema direita pós-Bolsonaro.

O incômodo, quase sempre escamoteado, é este: não há equivalentes nas esquerdas, com raríssimas exceções, dos nomes consagrados pelo bolsonarismo ou em consequência dos seis anos de crescimento da direita extremada.

A esquerda não tem, como caras novas que aparecem agora nas fotos das solenidades de diplomação, similares equivalentes ou assemelhados para Nikolas Ferreira, Eduardo Pazuello, Maurício do Vôlei, Zé Trovão, Mario Frias, Ricardo Salles, Rosângela Moro e Deltan Dallagnol na Câmara.

A extrema direita se renovou no Senado com Hamilton Mourão, Damares Alves, Jorge Seif, Astronauta Marcos Pontes e Sergio Moro. E ressuscitou Magno Malta.

É uma realidade exposta depois da eleição, mas que agora está aí, pronta para dizer a que veio. A extrema direita e o centrão comeram o velho e o novo centro.

Fora do Congresso, não há na esquerda um nome com a expressão de Tarcísio de Freitas, como surpresa e potência capaz de ir mais longe como governador de São Paulo e novo líder deles, no vácuo deixado pelo enclausurado do Alvorada.

Nomes da esquerda, que possam expressar a ideia de que há renovação, têm relevância pelo histórico e pela reputação, mas não tiveram o mesmo impacto eleitoral.

O bolsonarismo tem campões de votos entre os seus novos. A maioria dos que podem ser considerados caras novas na esquerda se elegeu na carona dos puxadores de votos. E são poucos. Boulos é um caso à parte.

O Congresso terá velhas caras de quadros do governo, que conseguiram mandatos e assim se apresentam como novidades, enquanto a esquerda terá de entender por que Lindbergh Farias, agora deputado federal, é um dos últimos nomes nacionais com origem no movimento estudantil. Onde foram parar os jovens de esquerda?

O ex-presidente da UNE talvez seja o mais célebre de todos os remanescentes de um grupo social que determinou os rumos da política brasileira desde a segunda metade do século 20. E Lindbergh está com 53 anos.

A extrema direita conseguiu transformar gente que já passou da meia idade em novos nomes da política com representação. E a esquerda mantém seus espaços, como expressão eleitoral, graças a uma maioria de nomes consagrados por mandatos anteriores.

É importante que figuras decisivas para a democracia tenham sobrevivido e sejam ainda competitivas. Mas não é o suficiente. A bancada do PT cresceu de 56 para 68 deputados, no ano da volta de Lula.

O PL passa a ser a maior bancada da Câmara, com 99 integrantes, e a extrema direita renovada apropria-se do Senado.

Claro que já se sabia disso tudo. Mas agora eles estão com o diploma na mão, e a ficha com a cara do Congresso de Arthur Lira cai à nossa frente. É uma cara nova manjada e medonha.

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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