Alckmin batiza Fatec com nome de pastor que apoiou a ditadura e organizou jejuns ‘contra o perigo comunista’. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 4 de janeiro de 2017 às 15:55
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Alckmin homenageou Tognini (ao centro) num culto em 2014

 

Geraldo Alckmin deu à Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo) Ipiranga o nome do pastor Enéas Tognini.

Fundador da Igreja Batista do Povo (IBP), Tognini foi um dos líderes do movimento de “avivamento espiritual” que deu origem à Convenção Batista Nacional (CBN), tornando-se presidente da entidade posteriormente.

Ficou famoso pelo apoio irrestrito ao regime militar.

Uma matéria da Istoé de junho de 2011 conta o seguinte:

Em novembro de 1963, quatro meses antes de o marechal Humberto Castelo Branco assumir a Presidência, o líder batista carismático Enéas Tognini convocou milhares de evangélicos para um dia nacional de oração e jejum, para que Deus salvasse o País do perigo comunista. Aos 97 anos, o pastor Tognini segue acreditando que Deus, além de brasileiro, se tornou um anticomunista simpático ao movimento militar golpista. “Não me arrependo (de ter se alinhado ao discurso dos militares). Eles fizeram um bom trabalho, salvaram a Pátria do comunismo”, diz.

 

Sua morte aos 101 anos em 2015 foi lamentada por homens como Júlio Severo, ativista “pró-família”, autor do livro “O Movimento Homossexual”, ex-amigo e hoje desafeto de Olavo de Carvalho.

“A Bíblia diz que a oração de um justo muito pode em seus efeitos. Só Deus sabe os efeitos do dia de jejum e oração que Tognini realizou contra o golpe comunista no Brasil”, escreveu.

No fim do ano passado, Alckmin havia vetado a mudança do nome da estação Vila Mariana, do metrô. O autor da proposta era o deputado estadual André Soares (DEM), filho de Romildo Ribeiro Soares, conhecido na TV como Missionário R.R. Soares.

A Fatec não escapou. Um abaixo assinado dirigido a Alckmin foi feito. Tognini, argumentam os autores, “nada fez em prol da educação, da tecnologia, à comunidade do bairro e muito menos pela própria faculdade e alunos”.

Segue: “Uma faculdade composta por alunos de diversas religiões e culturas, que se formam em cursos tecnológicos, não é de nenhuma forma representada pelo Pastor Enéas Tognini. Além disso, o decreto foi assinado na antevéspera de ano novo, em meio às férias estudantis, para que não houvesse nenhum tipo de manifestação dos alunos e outros contrários.”

O governador de SP vem se aproximando da igreja evangélica cada vez mais. Em 2014, alguns de seus encontros foram mantidos, misteriosamente, fora da agenda.

Um deles ocorreu em março de 2014, quando esteve num culto em louvor ao centenário de Enéas Tognini. Levantou os braços para cima, cumpriu todo o protocolo direitinho.

“Eu diria que o Enéas é o pastor de São Paulo. Ninguém chega a 100 anos se não for um sábio”, afirmou. “É com muita alegria e admiração que trago o carinho do povo de São Paulo”.

 

 

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