Publicado originalmente no Divergentes
POR VICTOR OLIVEIRA, mestrando em Instituições, Organizações e Trabalho (DEP-UFSCar)
Roda pelos jornais, revistas e sites de política que a estratégia de campanha petista focará as críticas e ataques no ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), visando enfraquecê-lo, para evitar sua ida ao segundo turno da eleição presidencial. De acordo com as matérias, petistas graúdos preferem enfrentar Jair Bolsonaro (PSL), considerado um adversário mais fácil de ser batido. Entretanto, a estratégia petista pode dar com os burros n’água.
O candidato petista deverá ser Fernando Haddad. A força de sua candidatura será concentrada na capacidade do ex-presidente Lula transferir seus votos para o ex-prefeito de São Paulo. Não é difícil supor que parte dessa transferência é automática, algo até atestado por pesquisas eleitorais, nas quais Haddad chega em 15% quando tem o nome ligado ao ex-presidente. Porém, o cenário é bastante diferente do que teve Dilma em 2010. Naquela época, 65% do eleitorado afirmava que votaria com certeza ou poderia votar no candidato de Lula. Esse índice, agora, é de 47%, segundo o Datafolha. Ou seja, o candidato também deverá mostrar valor para conseguir se eleger, e não apenas contar com o prestígio de Lula.
Aí começam os problemas de Haddad. Adversários deverão deixar Lula de lado durante a campanha para questionar o candidato petista a respeito de sua gestão à frente da prefeitura paulistana, que terminou muito mal avaliada com um fiasco eleitoral sem precedentes. Também podem explorar o fato de Haddad ser uma figura elitizada e acadêmica, distante do carisma e conexão popular lulista. Também podem questionar a capacidade de Lula em indicar postes, visto que a experiência com Dilma Rousseff terminou de forma desastrosa. Isso, sem contar o desgaste da sigla, envolvida em diversos escândalos de corrupção nos últimos anos.
O candidato Haddad tem problemas nas vistas para se viabilizar. Todos, porém, são anulados por outra candidatura: Geraldo Alckmin (PSDB). Haddad é rejeitado no seu domicílio eleitoral? Alckmin tem mais prestígio que o ex-prefeito, mas está longe do Olimpo que ocupou anteriormente. Haddad é muito paulista e elitizado para uma eleição nacional? Perto de Alckmin, até passa despercebido. O partido enfrenta problemas com corrupção? Alckmin teve secretários presos e é alvo de inquéritos, sem contar as figuras de seu partido encrencadas com a Justiça. Isso tudo com um bônus para o ex-prefeito: enquanto seu padrinho político é Lula, Alckmin representa Temer, presidente mais rejeitado da história do país.
Já no caso de um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, as coisas seriam bastante diferentes. Enquanto pode ancorar Alckmin em Temer, o PT não conseguiria ancorar Bolsonaro em nada. Não haveria algo palpável para que a população, quando comparasse, fizesse opção pelo projeto petista. Bolsonaro poderia capitalizar o sentimento de ruptura que existe no eleitorado e a disputa ganhar um tom de establishment x outsider, diferente de uma disputa intra-establishment entre Haddad e Alckmin. Além disso, Bolsonaro tem maior empatia do que Haddad e teria a seu favor o discurso da moral e ética, só perderia de goleada nos debates.
Não faz sentido o PT temer um confronto direto com o adversário que derrotou quatro vezes em eleições presidenciais. Aliás, o partido conhece de cor e salteado a fórmula para derrota-lo, tornando a eleição previsível. Por outro lado, ainda desconhece uma narrativa para vencer Bolsonaro. Apostar na rejeição pura e simples do eleitorado ao capitão do exército é uma tremenda pretensão. Haja vista, o quão difícil está a tarefa de desidratá-lo no início da campanha.