Alckmin não desistiu da reorganização e os alunos vão voltar a protestar. Por Mauro Donato

Atualizado em 18 de fevereiro de 2016 às 9:32

REORGANIzação

 

De três, uma: ou o governador Geraldo Alckmin não entende os recados, ou entende-os muito bem e trata de, sorrateiramente, dribá-los ou gosta mesmo é de desafiar a paciência alheia.

Depois de um 2015 com a maior greve da história por parte dos professores no primeiro semestre e das mais de 200 ocupações de escolas na segunda metade do ano, o governador e sua equipe da pasta da educação iniciam 2016 articulando a tal ‘reorganização’ que fora tão explicitamente rejeitada por estudantes, pais e professores.

O novo secretário da pasta, José Renato Nalini, declarou no domingo que “se as escolas não quiserem, não vai ter reorganização”. Como assim ‘se não quiserem’? Qual parte foi que não entendeu? Precisa que desenhe?

Mas por trás do discurso aparentemente conciliador, a realidade mais uma vez está escancarada. Mais de mil salas fechadas, segundo a APEOESP. Cento e dezoito escolas de período integral funcionando com carga horária diminuída. E obviamente nem é preciso dizer, tudo feito sem aviso, sem consulta.

O argumento oficial permanece o mesmo: a falta de demanda. Porém professores já relatam a superlotação, turmas com mais de 50 alunos, pais informam que não encontram vagas para matricularem seus filhos. Se houve retração na demanda como não há vagas?

Muitos alunos foram transferidos à revelia para o período noturno (alguns menores de idade). Mais uma vez desnecessário dizer que isso ocorreu com maior predominância nas escolas que tiveram forte papel de protagonismo nas ocupações, num claro sinal de retaliação aos estudantes.

Já aborrecidos com o ano que iniciava envolto em escândalo no caso das merendas, os estudantes retornaram às aulas nesta semana e se depararam com esse cenário, com esses transtornos velhos conhecidos. Nitroglicerina pura.

No próximo dia 23 irão à Assembleia Legislativa pedir a abertura de uma CPI sobre o esquema de propinas relacionado com a compra de merenda que tem o deputado (e presidente da casa) Fernando Capez entre os envolvidos.

Merenda, aliás, é um capítulo que parece ter entrado em colapso após a maracutaia vir à tona. Diversas escolas não estão recebendo nada ou então, quando recebem, é uma quantidade insignificante e completamente desprovida do que se possa entender como refeição ou nutrientes.

Nada de feijão, verduras, legumes e muito menos frutas. Cinco (!!) biscoitos e 200 ml de uma bebida a base de leite repleto de conservantes é que foi entregue por aluno na E.E. Deputado João Doria, na zona leste de São Paulo. O mesmo ocorre em toda a cidade de Ubatuba para as cerca de dez mil crianças das escolas estaduais.

Segundo a Secretária municipal de Educação de Ubatuba, Nadia Basso, o governo estadual está mandando o equivalente a R$ 0,50 (cinquenta centavos) por aluno por dia para que o município forneça a alimentação.

Essa reorganização disfarçada e a eterna precariedade dos recursos levará os estudantes a paralisar as escolas, fazer trancaços nas avenidas e outros métodos inéditos que estão nos planos dos alunos que sentem-se ultrajados diante de tanto desrespeito.

“A nossa luta não acabou, agora mais do que nunca os secundaristas vão voltar fervendo”, disse uma aluna.

Geraldo Alckmin persiste em seu estilo perverso de impor as coisas sem consultar, sem avisar. O ano de 2015 não ensinou nada ao governador?