Era para ser apenas a inauguração de um viaduto em Campo Limpo Paulista. Mas professores chegaram na cerimônia portando cartazes com “Ackmin inimigo da educação”, “Não ao fechamento de escolas”, “Não à reorganização na rede de ensino”. Vaiaram em alto e bom som o governador que não demonstrou o menor desconforto com a situação.
Muito pelo contrário, ao discursar Geraldo Alckmin apelou para uma de suas ferramentas preferidas: “Queria dizer que, antes de ser político, prezo de ser cristão: já estão todos perdoados.”
Perdoados? Pelo que mesmo?
Ontem o governo Alckmin, na figura do seu Secretário de Educação Herman Voorwald, anunciou novos números da proposta de reformulação do ensino. Agora serão fechadas 94 escolas e isso implicará na transferência de 311 mil alunos. A lista de quais escolas não foi divulgada novamente.
Enquanto o chefe era vaiado em Campo Limpo Paulista, Herman Voorwald enfrentava professores descontentes que protestavam na Assembléia Legislativa.
Como já me manifestei aqui anteriormente, a ideia na teoria parece ótima e até o Ministro da Educação, Aloisio Mercadante, fez ontem um pronunciamento ponderado.
“Acho que é até recomendável que se tenha faixas etárias específicas e não ter criança da alfabetização convivendo com alunos do último ano do ensino médio”, disse Mercadante que logo depois soltou um “mas”. E tudo que vem depois de um “mas” é o que realmente importa: “Mas como fazer essa transposição é algo muito delicado”.
Bingo.
Se professores e estudantes estão veementemente contrários à proposta, alguém se preocupou em saber o porque? Não, claro que não, e é essa uma das principais queixas. Os docentes e alunos não foram consultados. Aliás continuam às cegas sem saber nem quais escolas fecharão ou para onde serão transferidos.
Além do transtorno logístico de ver-se obrigado a estudar muito longe de casa, aspectos técnicos também continuam na penumbra. Entra semana, sai semana e a presidente da APEOESP, Maria Izabel Azevedo Noronha, cobra quais foram os critérios pedagógicos adotados. Ninguém responde.
Alckmin é aquele tipo de político que tem a religião como ferramenta de trabalho. Um trunfo clássico para arrebanhar votos fiéis. Estratégia histórica, eficientíssima, e sempre relacionada com governos e governantes autoritários. Mussolini era unha e carne com a igreja católica. Geraldo Alckmin posa de bom moço, religioso, suas relações com a Opus Dei são envoltas em mistério e assim vem se reelegendo.
Mas o governador, que sempre tirou vantagem do conservadoríssimo eleitorado paulista, está começando a não apenas desrespeitar que o estado seja laico. Parece começar a sentir-se uma entidade muito acima do cargo que lhe cabe e de uma superioridade espiritual magnífica. Hoje ele é capaz de perdoar-nos!
Me desculpe o senhor, governador, mas eu não preciso de perdão nenhum. Preciso é que me expliquem como escolas possam estar ociosas. Isso simplesmente me escapa à compreensão. Ah sim, lembrei: é porque a Fundação Casa está lotada.