De líder predestinado a comentarista do Ronnie Von.
Nem a tia mais pessimista de Pindamonhangaba podia imaginar que o ocaso da vida pública de Geraldo Alckmin seria tão desalentador.
Derrotado na eleição presidencial do ano passado – teve 4,76% dos votos, no pior desempenho do PSDB em 30 anos -, traído por João Doria, o ex-governador de São Paulo por quatro mandatos viu seu patrimônio político ruir em menos de três anos.
Estávamos nos primeiros dias de janeiro de 2016 quando fui procurado por um amigo do PSDB. Ele trazia novidade: Geraldo havia decidido lançar João Doria à prefeitura de São Paulo. A ideia era lançar o marqueteiro para sedimentar o caminho à sua pretensão de conquistar a presidência da República dois anos mais tarde.
Só acreditei porque meu amigo era alguém muito próximo do então governador.
Na cidade, todo mundo dava de barato que o candidato tucano seria Andrea Matarazzo.
Vereador mais votado do partido na eleição anterior, neto do italiano que chegou de mãos abanando e construiu uma das maiores fortunas da cidade, Andrea contava com o apoio de medalhões como Fernando Henrique, José Serra, Goldman, entre outros, além de ter a simpatia do então prefeito Gilberto Kassab que já havia conquistado a reeleição e não podia mais se candidatar.
Serra, com sua conhecida simpatia, chegou a dizer que nunca ouvira falar de Doria, perguntando, irônico, se por acaso se tratava daquele apresentador do Show Business da RedeTV.
O fim da história todo mundo conhece: Geraldo gastou a caneta do Governo do Estado para garantir o apoio dos filiados nas prévias do partido, o gestor enganou bem na campanha e acabou vencendo a eleição no primeiro turno.
No rastro de Doria, os tucanos desbancaram o PT no chamado ‘cinturão vermelho’ da Grande SP, com vitórias expressivas em cidades importantes como Osasco, Diadema, São Caetano, Taboão da Serra, entre outras.
No país, foi o partido que mais elegeu prefeitos no primeiro turno, ou seja, nas grandes cidades. No final, ficou com 803 de 5.509 prefeituras, passando a controlar uma massa de quase 50 milhões de eleitores.
Um massacre. Geraldo, padrinho e mentor de Doria, imaginou mesmo que a sua hora havia chegado.
Só não podia imaginar que o gestor lhe viraria as costas na primeira oportunidade. Doria solapou como pode e, de tanto expor a fragilidade do pobre, levou a credibilidade de Geraldo a praticamente zero.
O candidato que saiu das urnas em 2018 nem de longe lembrava o confiante líder de três anos atrás.
Era o início do fim de uma trajetória vitoriosa e cintilante em São Paulo, mas sem nenhum brilho no restante do país.
Na Convenção estadual do partido, neste domingo, houve quem acreditasse que ele podia tentar um último suspiro, dando o troco no gestor e encaminhando a sucessão da Executiva nacional, que acontece no final do mês, em seu favor e daqueles que sonham tirar o PSDB do pesadelo de se abraçar com a extrema direita como quer Doria.
Cabisbaixo, sem energia, jogou a toalha: mirou os olhos de Bruno Araújo, o indicado por Doria para comandar o partido, e referiu-se ao ex-deputado autor do voto 342 que selou o impeachment de Dilma como o “novo presidente nacional do PSDB”.
Não que seus seguidores acreditassem que pudesse haver outra alternativa, mas como sonhar nunca é demais alguns ainda alimentavam esperança.
Doria sorriu por dentro: tirar o fantasma Geraldo da sua frente significa se libertar do maior gesto de traição jamais visto na história desse país. Como se um carma estivesse próximo de sair de suas costas.
Na breve entrevista após a Convenção, o que se via era um Geraldo conformado.
“Volto à planície. Não vamos nos ver tanto”.
Faz sentido. Ele sabe que a audiência de tio Ronnie é traço.