Vão se acumulando as críticas à capacidade de “comunicação” do prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, desde que ele começou a implantar seu programa de governo aprovado nas urnas.
O plano diretor da cidade traz coisas como maior oferta de habitação popular, aproximação de emprego e moradia, estímulo ao uso de bicicletas e transportes coletivos, apoio aos catadores e aumento da reciclagem de lixo sólido, por exemplo.
A última que li foi no Brasil Post, uma associação do Huffington Post americano com a Editora Abril.
A solução mais frequente apontada para os problemas de comunicação dos governos é sempre mais comunicação. Até parece ação orquestrada por… alguma empresa de comunicação.
Tem muita gente que acredita nisso, incluídos muitos petistas. Essa teria sido, essencialmente, a maior causa do escândalo do mensalão, outro grande problema, ou melhor, produto de comunicação.
Acredita em qualquer coisa quem acredita que investimentos e estratégias de comunicação e marketing podem arrefecer o bombardeio de frequência palestina e intensidade israelense promovido pela imprensa brasileira contra os governos petistas.
Há uma guerra da comunicação no Brasil e no mundo atualmente, mas até na guerra existem leis. É proibido usar armas químicas e matar civis, por exemplo. No Brasil, a guerra da comunicação não tem lei.
Mario Covas também acreditava que os jornais não falavam tão bem de seu governo quanto deviam. É natural: político que é político tem que ser narcisista. Senão, não funciona. Como é que o cara vai dizer que é máximo, se nem ele acredita?
A oposição da imprensa não é novidade, nem privilégio ou exclusividade do PT. Perguntem a Fernando Collor de Mello – recentemente absolvido das acusações da imprensa que o levaram à destituição do cargo – se ele não concorda.
Você sabia que, para resolver o problema, Covas mandou a Imprensa Oficial – a gráfica e editora que produzem o Diário Oficial do Estado – fazer uma brochura chamada … Você Sabia?
Pois é, ele mandou a empresa de comunicação do estado que dirigia enfrentar as tropas inimigas e contratou a Abril – dona de um sofisticado esquema de distribuição de revistas e detentora de um cadastro gigante de assinantes – para entregar a revistinha na porta
da casa de todo mundo.
Deu pra perceber? Não? Eu explico melhor.
Para informar aos cidadãos que o elegeram as realizações que ele achava que a imprensa não reconhecia nem divulgava, o governador tucano mais popular que São Paulo já teve precisou pagar pelo socorro da imprensa que o perseguia.
Para se defender dos ataques, o governo precisa “investir em comunicação”. E adivinha no bolso de quem vai parar esse “investimento” e quem paga por ele.
Isso mesmo: você.
Para desmentir ou neutralizar uma imprensa que age em grupo – você já reparou que os jornais tem todos a mesma opinião e publicam até manchetes idênticas – os governos são obrigados a manter um exército de funcionários e toda uma estrutura dedicada exclusivamente a produzir “o outro lado” que ela não publica.
Ou, então, se quiser que ela o apoie incondicionalmente, encher suas páginas de anúncios pagos a preços acima do cobrado dos demais anunciantes, comprar assinaturas para colocar nas escolas e bibliotecas públicas onde faltam livros ou oferecer-lhes financiamentos em condições de pais pra filho.
Seja como for, é sempre o governo quem paga a conta. E paga duas vezes: para produzir a sua própria informação e para garantir sua publicação com anúncios.
Os filmes sobre Elliot Ness tornaram famosa a “taxa de proteção” que a máfia de Nova York cobrava para não roubar e matar os comerciantes.
Alguém acha que Haddad pode se defender dela com … mais “comunicação”?