Nos bastidores, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já consideram certo o indiciamento do ex-capitão no âmbito da investigação envolvendo a fraude na carteira de vacinação dele e de sua filha, Laura, conforme informações da colunista Malu Gaspar, do Globo.
A expectativa da Polícia Federal (PF) é que o relatório final do inquérito seja concluído e enviado para o Supremo Tribunal Federal (STF) nos próximos dias, pavimentando o caminho para a Procuradoria-Geral da República (PGR) usar as provas colhidas para eventualmente fundamentar uma denúncia.
No PL, avalia-se que o ex-chefe do Executivo deve ser enquadrado em pelo menos dois crimes: falsidade ideológica (artigo 299 do Código Penal) e infração de medida sanitária preventiva (artigo 268 do Código Penal).
Apesar disso, a leitura no entorno de Bolsonaro é que todo o estrago que poderia ter sido provocado por conta desse episódio já foi feito – e que o indiciamento ainda vai dar munição para a militância bolsonarista reforçar o discurso de que o ex-presidente é vítima de uma “perseguição judicial”.
Foi com base nessa apuração de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid nos sistemas do Ministério da Saúde que, em maio do ano passado, a PF prendeu o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.
O militar acabou firmando depois um acordo de delação premiada com a própria PF, homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, em que responsabilizou Bolsonaro pela falsificação dos documentos.
De acordo com os indícios coletados pela PF, a suposta falsificação do certificado de vacinação tinha como objetivo viabilizar a entrada nos Estados Unidos de Bolsonaro, familiares e auxiliares do ex-mandatário, driblando as exigências da imunização obrigatória em dezembro de 2022, pouco antes da posse do presidente Lula (PT). Ele ficou por lá durante 89 dias.
Vale destacar que durante sua gestão, Bolsonaro impôs um sigilo de cem anos sobre o seu cartão de vacinação, alegando que os dados “dizem respeito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem” do ex-presidente, ao responder a um pedido de divulgação do documento formulado via Lei de Acesso à Informação (LAI).
O sigilo, no entanto, acabou removido pelo governo Lula. Para se contrapor à postura negacionista de Bolsonaro, Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, decidiram divulgar suas carteiras de vacinação em fevereiro do ano passado.