A pandemia e o bolsonarismo nos empurram para dilemas que sempre existiram, mas que ficam mais agudos nas atuais circunstâncias.
O fotógrafo Orlando Brito, considerado o grande retratista dos presidentes, das celebridades e das cenas de Brasília, desde a ditadura, foi pisoteado por fascistas no domingo diante do Palácio do Planalto.
Brito tem 70 anos e não para, porque é uma fera do jornalismo.
Pois ontem ele foi chamado por Bolsonaro para um almoço e aceitou. Há casos históricos de gestos controversos, nas mais variadas circunstâncias, que vão muito além dos almoços.
Jornalistas pegam carona com o poder de déspotas (alguns eleitos), até mesmo dentro dos seus tanques nas guerras.
Jornalistas que se consagraram na grande imprensa trabalharam para ditadores. Os limites são sempre uma névoa que, quando parece ter uma forma, se dissipa.
Cada um estabelece suas condições e limites, tendo como referências as lições de vida, normas, leis e códigos da profissão. Brito foi, almoçou e fez fotos de Bolsonaro.
E se não tivesse ido e Bolsonaro decidisse dizer algo forte sobre Moro, ou até que poderia renunciar?
Eu não iria porque Bolsonaro nunca me convidaria. A extrema direita não me convida nem para tomar Q-Suco.
Se me convidasse, eu diria que já passei da idade para ouvir confidências de um aprendiz de ditador. Mas Orlando Brito fez o que achou que deveria fazer.