Por Beatriz Lourenço
Me lembro como se fosse ontem: Dias depois da eleição de um vereador negro, conservador, de direita e contrário às pautas carregadas há pelo menos um século pelo Movimento Negro brasileiro, uma parcela importante da esquerda branca correu pra gritar: CAPITÃO DO MATO! NEGRO DE ALMA BRANCA! TRAIDOR DA SUA RAÇA! No mesmo ano, os partidos de esquerda não elegeram nenhuma candidatura representativa do movimento negro e nenhuma mulher negra. Sobre isso, nenhuma palavra. Nenhuma autocrítica, nem reflexão.
Eu sou uma mulher negra de esquerda, milito na Uneafro Brasil, um movimento negro de esquerda, e posso garantir: tenho muito mais vergonha da hipocrisia da esquerda quando o assunto é racismo do que de pessoas negras de direita, aliás sobre isso Bianca Santana já nos alertou: “A diversidade de posições políticas não pode ser mais um dos privilégios brancos.” A crítica aos negros de direita está deslocalizada, precisa ser outra: Qual o papel da esquerda brasileira para garantir a eleição de candidaturas do movimento negro? Difícil responder. Podemos falar sobre o que a esquerda não fez, ou melhor, sobre o que fez pra garantir que candidaturas do movimento negro não tivessem sucesso, mas eu ainda tenho esperança.
Escrevendo esse texto me lembro que em junho de 2013, quando o neofascismo começava a tomar as ruas, a primeira bandeira rasgada foi a da Uneafro, em um ato na avenida Paulista. Uma bandeira igualzinha essa da foto, que ostenta as cores da unidade africana. Além da dor de ver uma bandeira rasgada, uma pergunta jamais saiu da minha cabeça: Por que só a esquerda não é capaz de ver o potencial transformador do Movimento Negro organizado? Por que é mais fácil o facismo nos identificar como inimigos do que a esquerda nos identificar como aliados?
Assim, hoje preciso perguntar: Depois de amanhã, vai ser outro dia? Seu voto vai expressar o antirracismo que não sai da sua boca? Tenho muito orgulho de dizer que o Movimento que eu construo há tantos anos terá uma candidatura nestas eleições: O Quilombo Periférico, uma candidatura construída pelo movimento negro e de periferia. Orgânica, de verdade, que fala sobre a luta daqueles que carregam até hoje esse país nas costas. Uma candidatura que carrega a potência do Movimento Negro e das lutas periféricas.
05 dias depois das eleições será o dia 20 de Novembro, dia da Consciência Negra, e eu espero que nesse dia você escolha se orgulhar de seu voto. Eu vou me orgulhar do meu!
Beatriz Lourenço do Nascimento, 28 anos, advogada militante da Uneafro Brasil.