Ana Estela Haddad sobre o “Criança Feliz”: “Estamos falando de um governo sem mandato para tomar essas medidas”. Por Marcelo Godoy

Atualizado em 2 de novembro de 2016 às 9:24

 

Ana Estela Haddad recebeu a equipe do DCM na TVT vinte dias após a derrota acachapante no primeiro turno de seu marido Fernando Haddad para João Doria na corrida para a prefeitura de São Paulo.

Mestre, doutora e livre docente na USP, ela coordena como voluntária até o final deste ano uma das maiores iniciativas públicas brasileiras para a primeira infância (0 a 6 anos), o projeto “São Paulo Carinhosa”. Em 2017, assim como marido, voltará para a universidade, onde dará aulas.

O projeto, que interligou 14 secretarias municipais em toda cidade e gerou um livro com quase 600 páginas e extenso relatório de atividades e conhecimento sobre o tema, recebeu da mídia tradicional nos últimos anos menos interesse do que os vestidos da primeira dama Marcela Temer.

Apesar de não poder dar continuidade a esta experiência de política pública, Ana Estela conta que se preparou e sai com a sensação de dever cumprido. Suas realizações como os cuidados com a primeira infância e iniciativas de humanização da cidade deveriam ter continuidade obrigatória por qualquer prefeito com sensibilidade, bom senso e capacidade de escuta.

Ela explicou as diferenças entre o “São Paulo Carinhosa” e projetos tradicionais de ajuda assistencialista ou caridade.

“Trata-se de dar direitos, não estamos fazendo favor nenhum em dedicar recursos públicos e energia pública para cuidar da criança. É um direito que ela tem,  direito à educação, a uma família e à não violência”, diz. “Quando a família não pode garantir esses direitos, é dever da sociedade e do poder público fazer isso”.

“Nenhuma criança pode ser deixada para trás. Uma criança que está na rua é problema de todos nós, não é só de quem a abandonou. Precisamos entender porque ela foi abandonada”.

Sobre o “Criança Feliz”, pontuou: “Em primeiro lugar, o programa ainda não começou e, em segundo lugar, estamos falando de um governo que não tem mandato eleitoral para tomar as medidas que está tomando”.

“A PEC 241 é um grande retrocesso”, afirma. “Depois de dez anos de conquistas, é um grande retrocesso. As pessoas não têm noção de que muitas coisas somente são possíveis graças ao SUS: os remédios gratuitos, vigilância sanitária, a vacinação, o transplante de órgãos, algo extremamente caro e complexo, na sua maioria feitos pela saúde pública, o Prouni,  as universidades  federais.  Você muda uma geração e muda um país, pois um jovem que se forma não vai permitir que o filho dele não se forme também”.

“A falta de debate público nos espaços de mídia e de maturidade em parte da sociedade impedem uma visão positiva de programas reconhecidos internacionalmente como o ‘Braços Abertos’, de combate ao crack”, diz. “A responsabilidade do combate às drogas e ao tráfico é do governo do estado. Muitos prefeitos não se metem com isso. Um prefeito que faz cálculo eleitoral não se mete com isso. Fernando entendeu que estas pessoas merecem ser cuidadas”.

 

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