André Lara Resende: “Quem compra dívida pública não é investidor, é rentista”

Atualizado em 12 de fevereiro de 2023 às 13:24
O economista André Lara Rezende
Foto: Antonio Scarpinetti/Divulgação/Unicamp

O economista André Lara Rezende concedeu entrevista ao Canal Livre, da TV Bandeirantes, e criticou duramente as altas taxas de juros mantidas pelo Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a atacar o BC. Ele considera que Campos Neto traiu o governo e quer levar o país à recessão.

Na entrevista, a qual a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, teve acesso, Resende reforçou o alerta e disse que a taxa alta, combinada com balanços negativos dos bancos, pode colocar, sim, o país em recessão.

“O fato de que tivemos quebras no varejo leva os bancos a retraírem drasticamente o crédito. Assim, você agrava o processo de desaquecimento da economia e coloca o país em uma possível recessão muito séria”, diz.

Lara Resende também afirmou que o argumento de que o Brasil passa por uma crise fiscal não se sustenta. “Primeiro, esse terrorismo é feito permanentemente, o ‘risco fiscal’. A relação dívida do PIB brasileiro, os resultados do ano passado, foi de superávit primário de 1,3%. A dívida-PIB caiu para 73%, há anos falam que vamos bater em 100%, 90%, mas esse é o nível mais baixo dos últimos seis, sete anos”, disse.

Ao ser questionado sobre os riscos de um déficit fiscal permanente, o economista disse que o Brasil tem um endividamento inferior ao de outros países e que a divida brasileira é “integralmente em moeda nacional”.

“Pera aí, me explica por que não é sustentável? O que quer dizer risco fiscal? Risco de sustentabilidade? É a dívida. [O economista norte-americano] Jeffrey Sachs, que tivemos uma reunião ontem desse Comitê Estratégico do BNDES para investimento a longo prazo, repetiu o que me disse em um jantar no início deste mês. Se você olha as contas brasileiras, os números brasileiros e pergunta sobre o país, falam que o país está perfeitamente bem, com a economia em ordem. Há um endividamento muito inferior ao de todos os países desenvolvidos, em linha com os países em desenvolvimento. E a dívida brasileira é integralmente em moeda nacional”, afirmou.

Ele disse também que o fato de a dívida brasileira ser maior do que a de países de desenvolvimento semelhante é natural, pois “somos um país maior, e quanto mais sofisticado no mercado financeiro, maior a dívida interna. A dívida interna é o ativo sem risco do sistema financeiro, deve ter uma proporção. É mais coerente medir a proporção de dívida com ativos privados. Porque a dívida pública é uma dívida do governo e um ativo do setor privado, as pessoas se esquecem isso. Se o governo superavitar e reduzir a dívida interna para zero, o setor privado perderia 70% do PIB em termos de riqueza financeira”.

“Portanto, a situação fiscal brasileira é muito razoável. O Brasil tem nos últimos anos, sempre teve no século 21, em quase todos os anos, superávit primário. Alguns anos teve déficit primário e depois voltou e nesse ano voltou a ter superávit de 1,3% do PIB. Como se pode dizer que é um risco fiscal e por isso a taxa de juros tem que ser alta? A taxa de juros básica quem determina é o Banco Central, a de longo prazo é fixada pelo mercado na expectativa do custo de carregamento, por isso ela também é determinada pelo Banco Central”, seguiu.

“O brasileiro é todo financiado por brasileiro. Quem financia o Brasil são os brasileiros, em moeda nacional. Quem compra dívida pública não é investidor, é rentista. Investidor é quem investe com risco, na dívida pública não tem risco”, concluiu Lara Resende.

A entrevista com o economista será exibida às 20 horas no BandNews TV e à meia-noite, na Band e também pelo YouTube.

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