Com a crise econômica, tem aumentado os casos de assédio moral no ambiente de trabalho no Brasil. É o que apontou uma pesquisa do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-SP): houve um aumento de 47% nos casos de assédio moral no ano de 2015 em São Paulo, o primeiro ano da crise.
A pressão por resultados — mais cobrados do que nunca — traz consequências danosas à saúde do trabalhador.
Situações que se tornam cada vez comuns são: a atribuição equivocada de erros ao trabalhador; sobrecarga de atividades; exigência de trabalhos urgentes, sem necessidade; ameaças; e insultos. Isso ocorre tanto nas pequenas quanto nas grandes empresas. Por exemplo, na Petrobrás, em que funcionários veem no horizonte o fantasma do desemprego com a possível privatização da empresa ou de suas subsidiárias.
Moara Zanetti, que é dirigente do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro, o Sindipetro-RJ, comenta:
“A Petrobrás é um estrato da sociedade que reflete o que vivemos de forma geral hoje no Brasil. Na empresa, existem cinco grupos que podem ser considerados alvo de assédio permanente: os críticos, aqueles que questionam e problematizam ordens, e por vezes, possuindo militância sindical, são considerados ‘pessoas problemas’ para empresa devido a sua capacidade de influenciar colegas de trabalho em equipes, dificultando o trabalho dos gestores, segundo uma fala recorrente da direção da Petrobrás; os frágeis, que são aqueles que não conseguem cumprir suas demandas diante da pressão por resultados, que são subjugados por suas respectivas chefias, entre terceirizados; os grupos socialmente discriminados como negros, mulheres, LGBTs, que sofrem, principalmente, na área operacional. São tratados de forma preconceituosa; e por fim os muito qualificados que podem representar uma concorrência para o gestor.”
Ela acrescenta:
“Em momentos de crise, o assédio fica acentuado. Seja porque o gestor tenha que mostrar maior produtividade, maior controle de sua equipe, e às vezes, para isso, elimina partes desta mesma equipe. Os alvos são os funcionários mais idosos que não se encaixam, segundo essas chefias, no perfil de equipe. Em todos esses grupos que são alvo de assédio, ocorrem situações de retirada de trabalho. Além disso, a direção da Petrobrás impõe um aumento de sanções disciplinares administrativas que vão compor o histórico funcional para justificar uma futura demissão.
Moara é assistente social e foi afastada do setor de RH, sob a alegação de conflitos de interesses. Ela já era dirigente sindical quando foi obrigada a deixar o setor em que trabalhava.
No ano de 2016, quase 12 mil empregados aderiram ao programa de demissão voluntária da Petrobrás. Hoje, a Companhia conta com aproximadamente 62 mil empregados.
Por conta deste assédio, muitos funcionários do sistema Petrobrás têm apresentado quadro de depressão e angústia, o que acaba se refletindo em problemas de saúde grave que geram necessidade de licença médica e até afastamento definitivo, através de aposentadoria por invalidez.
Em junho último, aliás, o governo Bolsonaro anunciou mais um Plano de Demissão Voluntária (PDV), em sete empresas públicas.
O governo espera a adesão de 21 mil funcionários e uma “economia” de R$ 2,3 bilhões. Na Infraero, o objetivo é desligar cerca de 600 funcionários; na Petrobrás, 4.300; nos Correios, 7.300 empregados. Na Embrapa, a meta é o desligamento de 3.000. A medida, como não poderia deixar de ser, vai aumentar mais a fila de desempregados, o que afeta a saúde de muitos.
A psicóloga Jennifer Camargo atende pessoas com problemas relacionados à crise financeira.
“Tenho alguns pacientes com transtorno de ansiedade, gerados pela possibilidade da perda de emprego e pelas condições em que se encontram dentro da empresa, pois trabalham mais, consequência da redução de pessoal, que gera acúmulo de funções. Ou a pessoa se submete a tal condição, ou é desligada. Trabalha com medo, sob pressão muito intensa”, conta.
Quando a ameaça se concretiza e perde o emprego, Jennifer perde também o paciente, que não pode mais pagar pelo tratamento.
Ainda assim, em alguns casos, ela continua informada sobre o que ocorre na vida deles. “Alguns dos meus pacientes ainda não se recolocaram, vivem de outras atividades, tenho um que passou a vender salgadinho e doces para festa”, diz.
“Com a crise financeira, vieram outras perdas além do dinheiro e do emprego. Tem gente que perde a família e se vê como uma pessoa sem dignidade. É doloroso”, complementa.
O professor Fernando Freitas, doutor em psicologia pela Université Catholique de Louvain (Bélgica), explica que a crise está gerando uma contingente enorme de brasileiros tristes e sem esperança. Pode se tornar um problema de saúde pública.
“O que é esperado neste Meio Ambiente?”, reflete. “É o aumento no número de pessoas sofrendo de tristeza, muitas vezes uma tristeza profunda, persistente, o que aumenta o número de pessoas com ansiedade, insônia, havendo o aumento do consumo de álcool, tabaco e das drogas ilícitas, além do aumento dos casos de suicídio”.
O Brasil precisa virar essa página.