A empresária Anita Harley, maior acionista da rede varejista Pernambucanas, é centro de uma conturbada disputa judicial dentro da companhia. Ela está em coma há seis anos e seus parentes e amigos afirmam que foi vítima de um golpe.
Segundo reportagem do Fantástico, uma decisão recente reconheceu como filho socioafetivo dela um homem que pode se tornar o único herdeiro de uma fortuna avaliada em R$ 2 bilhões. A empresária, no entanto, não possui filhos biológicos.
Anita obtém 48% das ações do grupo que controla a rede Pernambucanas. A empresa tem 470 lojas em 15 estados, com 16 mil funcionários.
No dia 11 de fevereiro deste ano, houve uma mudança na equipe médica que cuidava da bilionária. Após um pedido do advogado nomeado curador da paciente pela 10ª Vara de Família e Sucessões de São Paulo, foram trocadas as equipes de cuidadores e controladores do acesso ao leito da paciente. O pneumologista Elie Fliss, que acompanhava Anita havia dez anos, também foi afastado da chefia da equipe.
A lei determina que, em casos como o de Anita, quando a pessoa fica impossibilitada de exercer as tarefas mais básicas, deve ser designado um ou mais curadores para cuidar dos compromissos financeiros, patrimônio e bem-estar da “interdita”, sendo remunerados mensalmente com recursos da conta bancária da paciente.
No caso da empresária, o curador deve representá-la ou indicar representantes para atos e reuniões da companhia. Assim, as disputas judiciais envolvem temas de alto interesse para a rede Pernambucanas, que possui 466 lojas físicas no país em 14 Estados e no Distrito Federal, 16 mil colaboradores e ativos de R$ 8,3 bilhões em 2020.
A assessora da presidência da empresa, Cristine Rodrigues, que foi responsável pela saúde de Anita por décadas, está de um lado da disputa. Do outro, está Sônia Aparecida Soares, uma funcionária de Anita que morou com ela por 20 anos e afirma ser sua esposa, e também o filho biológico de Sônia, Arthur Miceli.
Reconhecido como filho socioafetivo, Arthur é atualmente o herdeiro universal do patrimônio bilionário. Contudo, em 1999, em um documento conhecido como “testamento vital”, Anita determinou que Cristine era quem deveria responder por ela e tomar decisões caso ela estivesse incapacitada ou inconsciente.
Cristine entrou com um processo em abril pelo reconhecimento de união estável com Anita. Questionada pelo repórter Estevan Muniz sobre a decisão, ela não quis falar: “Eu não posso responder. O meu advogado não permite que eu responda”.
A cineasta Tizuka Yamasaki, amiga da empresária, se mostrou supresa com a ação de Cristine e disse nunca ter visto as duas como um casal.
“Pode até ser que, de repente, a Cristine fosse apaixonada pela Nica [como ela se refere a Anita] ou a Nica pela Cristina, mas nenhuma das duas demonstrou isso”, afirmou ela ao G1.
O advogado de Cristine, José Martins Cardozo, garante: “Todas as ações que Cristine promove, sem exceção, são para conseguir cuidar de Anita e fazer valer a vontade dela. Não há nenhum interesse patrimonial nisso. Nunca houve, nem haverá”.
Já o advogado de Sônia e Arthur rebate: “Ela não tinha vínculos emocionais pessoais com doutora Anita. Ela tenta criar uma situação de que ela tinha um poder. Ela era uma simples secretária”.