Antes das joias, general Heleno quis prisão perpétua a presidente desonesto. Por Leonardo Sakamoto

Atualizado em 13 de agosto de 2023 às 11:30
Jair Bolsonaro e general Augusto Heleno durante reunião Imagem: Marcos Corrêa/PR

Por Leonardo Sakamoto

No momento em que se discute a chance de Bolsonaro ser preso por surrupiar e vender joias que são do patrimônio público, a internet resgatou uma contundente declaração do general Augusto Heleno, um dos militares mais próximos de Jair, pedindo “prisão perpétua a presidente desonesto”.

“Um presidente da República desonesto tinha que tomar uma prisão perpétua. Isto é um deboche com a sociedade. Presidente da República desonesto destrói o conceito do país”, afirmou o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional em reunião ministerial em 14 de junho de 2019.

A declaração viralizou nas redes sociais. E o general continuou: “Isso é uma canalhice típica desse sujeito. Não mereceu jamais ser presidente da Republica. Presidente da Republica é uma instituição quase sagrada. Eu tenho vergonha de um sujeito desses ter sido presidente da República”.

Não, ele não estava falando do seu patrão, mas reclamava de uma declaração de Lula que questionava o atentado sofrido por Bolsonaro um ano antes.

Na reunião, Bolsonaro – que é apontado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, como o beneficiário dos dólares oriundos da venda das joias que pertencem ao povo brasileiro – ainda viria a completar a declaração de seu ministro afirmando que tudo o que fazia como presidente era “pelo exemplo”.

A tríade de generais das joias, da pandemia e do golpe

Em depoimento no dia 1º de junho na CPI do 8 de Janeiro da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o general Augusto Heleno negou participação no planejamento das ações que levaram à invasão e destruição das sedes dos Três Poderes.

Disse que aconselhava Jair a não tomar atitudes drásticas contra o STF. Mas, em dezembro de 2021, ele demonstrou que fazer isso lhe demandava muito esforço: “Eu tenho que tomar dois Lexotan na veia por dia para não levar o presidente a tomar uma atitude mais drástica em relação às atitudes que são tomadas por esse STF que está aí.”

O áudio, divulgado na época por Guilherme Amado, do portal Metrópoles, teria sido registrado em uma formatura da Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, que está sob a aba de Heleno.

Mas, em fevereiro de 2020, ele esqueceu de tomar o tal Lexotan ao conclamar o governo a não ficar “acuado” pelo Congresso Nacional e pedir ao presidente “convocar o povo às ruas” contra a instituição. E em uma reunião soltou um “não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se”.

Na pandemia, outro general, Eduardo Pazuello, foi fundamental para a sabotagem do combate ao covid-19 perpetrada pelo governo Bolsonaro. Como ministro da Saúde, serviu aos interesses do chefe, aceitando atrasar a compra de vacinas e atuando contra as medidas de distanciamento social, o que contribuiu para que o Brasil chegasse a mais de 700 mil mortos ao final. Mesmo assim, foi eleito deputado federal pelo bolsonarismo.

Agora, as investigações da Polícia Federal chegaram a mais um general, desta vez no escândalo das joias. Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, ex-faz-tudo de Jair, foi alvo de operação de busca e apreensão. Cidão foi flagrado vendendo os produtos de luxo do nosso patrimônio na Flórida a pedindo de Cidinho.

E por que lá? O general, amigo de Bolsonaro e seu colega na Academia Militar das Agulhas Negras, morava no Estado norte-americano por ter ganho do ex-presidente a chefia do escritório brasileiro da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Miami. Sim, o Brasil estava pagando o salário de um graduado militar agora investigado em um caso de peculato e lavagem de dinheiro.

Como já disse aqui, ser chamado de “ladrão de joias” tem mais potencial de atingir a imagem de Bolsonaro junto ao eleitorado do que ser alcunhado de “genocida” ou “golpista”.

“Prisão perpétua a presidente desonesto.” A sugestão de Heleno vale apenas para civis ou também atinge membros da cúpula militar?

Originalmente publicado no Uol

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