Em 1987, o então vereador carioca Wilson Leite Passos apresentou um projeto de lei que pretendia nomear uma rua e uma escola homenageando Tenório Cavalcanti, um dos mais polêmicos personagens da história política carioca, eternizado nos cinemas por José Wilker e visto como o precursor das milícias.
A admiração de Leite Passos por Cavalcanti vinha de longa data.
Após uma juventude marcada pela política estudantil, sempre do lado oposto ao de Getúlio Vargas, e por sucessivas eleições apoiando candidatos da UDN, elegeu-se ele próprio como candidato à Câmara Municipal do Rio de Janeiro com o slogan “Carioca arrisque um voto em 1954 para vereador em Wilson Leite Passos, que arrisca a vida, como Tenório Cavalcanti, pela liberdade”.
Nesse mesmo ano, Wilson havia sido o autor de um pedido de impeachment de Getúlio Vargas, tentativa que foi derrotada na Câmara, ante a rejeição de 136 deputados.
Em 1956 criou o Serviço Municipal de Eugenia, do qual muito se orgulhava: “Ele fazia o exame pré-nupcial. A orientação médica e psicológica para que os casais tivessem tranqüilidade, numa sociedade de pais e filhos saudáveis. Quem tivesse alguma enfermidade era tratado, o importante era a família. O que interessa é melhorar a qualidade de nossa gente. Quem é contra é de uma ignorância siderúrgica”.
Ele defendia um projeto de lei que previa redução de impostos para “pais saudáveis, de filhos também sadios”.
Na definição do criador do conceito, Francis Galton, eugenia é “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”. Trata-se de um dos principais pilares da ideologia nazista.
Em 1964, apoiou o golpe militar que instaurou a ditadura no país, mas sentiu-se preterido das escolhas da UDN por não ser correligionário de Carlos Lacerda, por quem dizia-se perseguido.
Wilson Leite Passos elegeu-se vereador oito vezes conscutivas. Depois foi deputado federal. Quando era conhecido por ser o mais polêmico dos vereadores da Câmara Municipal do Rio, teve como colega o jovem Jair Bolsonaro.
Nas palavras do historiador Michel Gherman, em entrevista concedida ao Essencial do DCMTV, pode-se dizer que Passos tenha sido o padrinho e antecessor do atual presidente no posto de encarnação da extrema-direita na política fluminense.
Veja o vídeo abaixo, entre 1:05’35” e 1:06’36”.
Apesar de fazer questão de passar a imagem de retidão moral, tão cara aos conservadores, seus contemporâneos de Câmara dizem que ele tinha problemas com bebida e assediava as funcionárias da limpeza dentro dos elevadores.
Era antissemita e contumaz negacionista do holocausto judeu.
À BBC Brasil, a vereadora Teresa Bergher (PSDB) relembrou as disputas que os dois tiveram no Plenário da casa.
“Quando propus meu projeto de lei para ensinar o Holocausto nas aulas de história da rede municipal de ensino, ele disse que o genocídio dos judeus nunca existiu. Não há dúvida de que era simpatizante do nazismo”, disse à BBC.
Em 1997, Jair Bolsonaro e Wilson Leite Passos foram os únicos deputados federais a contrariar a decisão de seu partido da época e votaram contrariamente à emenda de reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Tinha, como Bolsonaro, verdadeira tara por armas.
Andava com uma pistola Walther, modelo PP, calibre 7.65, presente de “um oficial nazista que lutou na 2ª Guerra Mundial”. Vivia “pronta para ser usada”.
O revólver teria matado “muito russo, muito comunista”, falou em 2006 à Folha. Nos anos 50, costumava levá-la à cintura para de defender de “esquerdistas”.
Morreu esquecido no Rio de Janeiro de câncer, com sequelas de hidrocefalia, alternando momentos de alienação e lucidez.