O jogo de montar vendeu 20 milhões de cópias e está sendo adotado em escolas
Todo dia ele faz tudo sempre igual: acorda e vai para o iPad ou o PC para jogar. Ou então acessa o YouTube para ouvir dois nerds portugueses darem dicas. Na volta da escola, a mesma coisa. Dá uma pausa para tomar banho e jantar. Depois lá vamos nós para a velha rotina, até que a mãe, ou eu, o forcemos a largar aquilo e dormir.
Ele é Antônio, 8 anos, e aquilo é o Minecraft, o novo fenômeno do mundo dos games. Desenvolvido por uma empresa chamada Mojang, ele vendeu mais de 20 milhões de cópias desde o lançamento em 2011, sendo 7 milhões apenas no PC. A versão para X-Box vendeu 5 milhões em três meses.
Um professor de biologia de Nova York está pedindo aos alunos entre 8 e 12 anos que mergulhem no universo de engenharia do jogo. Diversas escolas estão fazendo o mesmo. Na China, ele está sendo usado para complementar o estudo de romances clássicos. Os estudantes remontam os cenários.
Qual é a graça do Minecraft? É uma espécie de jogo educacional em que você usa cubos para construir uma casa, um castelo – ou, se quiser, uma réplica da Estrela da Morte, a nave espacial de Star Wars, ou o Empire State Building. “No modo Survival, aparecem monstros à noite e a gente tem de se proteger construindo muros para eles não entrarem. O pior deles é o Creeper, com suas quatro pernas, duas na frente e duas atrás”, conta Antônio.
Lembra o LEGO, mas com um visual, de certo modo, tosco. Não tem um objetivo claro — o que, paradoxalmente, tem atraído mais fãs: a liberdade criativa. O jogador utiliza picaretas, pás, machados, espadas e foices para ajuda-lo a erguer prédios ou combater zumbis. Minecraft é um projeto independente de Persson, que o inventou em 2009 sozinho e, no ano seguinte, com o êxito, fundou a Mojang.
O criador é o sueco Markus Alexej “Notch” Persson, 33 anos. Persson nasceu em Ystad e começou a programar games no computador aos 7. Criou seu primeiro jogo aos 8. Ganhou todos os prêmios possíveis da indústria, incluindo um especial da BAFTA, a academia britânica de artes televisivas e cinematográficas. Seu joguinho de cubos já tem mais de 30 milhões de usuários no planeta e lhe rendeu mais de 180 milhões de dólares. Assinou um contrato com a empresa que produz o LEGO. Um crítico afirmou que “o sucesso dele dependeu apenas de uma dose de conhecimento em programação e uma ótima ideia” e um site especializado classificou Minecraft como o quarto melhor game para jogar no trabalho.
Persson pode ter tido “apenas” uma ideia, mas deu um duro danado para isso. Seu blog, The Word of Notch, é atualizado quase diariamente com suas descobertas, as oportunidades que surgiram, as dificuldades. É casado, membro de uma banda de música eletrônica e afiliado ao Partido Pirata da Suécia, bem como doador constante da ONG Médicos Sem Fronteiras. O cara conta também algumas boas piadas. “Eu visitei meu médico na semana passada e ele me disse para parar de me masturbar. Eu perguntei por que, já que isso não é perigoso. Ele disse que eu o estava distraindo”.
Antônio não vai entender essa piada. Não apenas pela idade, mas porque ele está ocupado demais jogando Minecraft para prestar atenção em qualquer outra coisa. Inclusive em mim.