Anunciada terceira dose de vacina contra covid-19 para maiores de 70 anos e imunossuprimidos

Atualizado em 26 de agosto de 2021 às 15:30

Anunciada terceira dose de vacina contra covid-19 para maiores de 70 anos e imunossuprimidos

Publicado originalmente em Jornal da USP, por Luiza Caires, Júlio Bernardes e Roxane Ré

Campanha de vacinação contra covid-19 em Jundiaí, São Paulo. Foto: Pedro Amora/Prefeitura de Jundiaí.

A aplicação da terceira dose começará em setembro na maior parte do País, com alguns locais iniciando antes

Pessoas com mais de de 70 anos e imunossuprimidos apresentam uma resposta imune ao coronavírus inferior em relação a outros indivíduos, mesmo após terem completado o regime vacinal. É por conta disso que o Ministério da Saúde anunciou a aplicação de uma terceira dose da vacina. O objetivo é buscar uma forma de reforço à proteção. Segundo o secretário-executivo da pasta, pessoas em condição de imunossupressão (transplantadas, com HIV, neoplasias etc.) deverão tomar o reforço vacinal 28 dias após a data da sua última vacinação. E maiores de 70 anos devem aguardar pelo menos seis meses.

As terceiras doses serão aplicadas de forma preferencial com a vacina da Pfizer, não importando o imunizante recebido anteriormente. Ou seja, quem tomou as duas doses da CoronaVac ou da AstraZeneca deverá tomar a terceira dose da Pfizer. As vacinas de vetor viral da Janssen ou da AstraZeneca também poderão ser aplicadas como alternativa.

Na maior parte do País, a aplicação começa em 15 de setembro. No Estado de São Paulo, ela se inicia no dia 6, como anunciado pelo governo. A cidade de Niterói (RJ) dá início à nova campanha já nesta sexta (27).

“Tradicionalmente, o grupo de idosos maiores de 70 anos e imunossuprimidos possui uma resposta imunológica pior frente ao estímulo de uma vacina, ou seja, não produzem anticorpos na mesma quantidade que outros grupos”, afirma o professor infectologista responsável pelo Laboratório de Reinfecção do Hospital das Clínicas da USP, Max Igor Banks. A decisão considera o reforço vacinal como necessário para uma resposta mais robusta contra casos graves da doença e óbitos. No entanto, o pesquisador afirma que o reforço não significa que o regime vacinal anterior não funcionou de forma alguma. “Todas as avaliações demonstram que há uma redução bastante expressiva no número de internações e óbitos, mas que ainda não é ideal”, explica em participação no Jornal da USP no Ar.

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Um estudo da Faculdade de Medicina da USP publicado no dia 23 de agosto em versão pre-print (versão prévia de artigo científico) afirmou que só um terço dos homens acima de 55 anos desenvolveu forte resposta de anticorpos ou celular com a vacina CoronaVac. Em pessoas acima de 80 anos, a resposta imunológica se torna menor ainda.

Segundo o professor Jorge Kalil, da FMUSP, que é um dos autores do trabalho, os resultados do estudo reforçam recomendações que têm sido feitas de aplicação de uma terceira dose de vacina heteróloga, isto é, diferente da já aplicada, para quem tomou duas doses de CoronaVac e tem mais de 80 anos, além de vacinar as pessoas com mais de 60 anos com a terceira dose quando possível.

Mas a decisão, neste momento, não é unanimidade entre os cientistas. O infectologista e pesquisador da Fiocruz André Siqueira, por exemplo, acha que seria preciso analisar outros dados para afirmar o que é melhor fazer primeiro: revacinar estes indivíduos de idade mais avançada ou priorizar uma cobertura completa da população, que pode levar a alguma redução da transmissão.

Já está em andamento no Brasil estudo clínico buscando averiguar isso, como comentado por Kalil ao Jornal da USP. “Um estudo patrocinado pelo Ministério da Saúde está vendo o quanto é eficaz imunizar com uma terceira dose pessoas que receberam duas doses da vacina CoronaVac”, relata o professor da FMUSP. “O que vai ser avaliado é a quantidade de anticorpos neutralizantes que será obtida depois dessa terceira dose, para diferentes vacinas. Espera-se que em um mês já tenhamos esses resultados.”

Outras medidas

Outra decisão tomada pelo Ministério da Saúde é a redução do intervalo entre as doses da Pfizer e da AstraZeneca. O intervalo passará de 12 para 8 semanas, a partir do mês de setembro. A medida valerá para toda a população e também visa a acelerar a proteção pensando na chegada da variante delta, mais transmissível, ao País.

Sobre esta variante, André Siqueira diz que as vacinas, de uma forma geral, têm mostrado uma efetividade relativamente menor, com uma dose só, e com duas doses ainda apresentam uma boa resposta. “Mas sem dúvida isso deixa mais claro que não podemos contar somente com as vacinas como método de controle da pandemia. Se a gente deixa o vírus correr livremente na comunidade, isso vai levar a um alto número de casos. Principalmente entre os idosos”, acrescenta ele. “Alguns destes indivíduos, mesmo que a gente aplique diversas vacinas, diferentes ou não, vão continuar sem ter a resposta adequada. Então reduzir a transmissão com outras medidas é essencial.”

Doses da AstraZeneca fabricadas pela Fiocruz. Foto: Ari Dias/Agência de Notícias do Paraná.

De fato, o relaxamento de restrições e a discussão sobre doses de reforço acontecem em diversos países. E podem dar à população a percepção de que as vacinas sejam agora a única frente de ação para conter a pandemia. Mas isso não é verdade, de acordo com Lorena Barberia, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “A experiência de vários países, como é o caso de Israel, que avançaram na vacinação de forma muito mais rápida e com maior cobertura vacinal, tem reforçado que as vacinas funcionam como parte de um pacote de medidas para o controle da pandemia. Não como um substituto”, diz ela.

Ou seja, as vacinas continuam a ser a melhor maneira de os indivíduos se protegerem, “mas as sociedades não podem tratá-las como sua única defesa”, enfatiza.