Por Eduardo Maretti
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um duro discurso nesta quinta-feira (13), criticando a hegemonia do dólar norte-americano, em Xangai. “Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? E por que não temos o compromisso de inovar?”, questionou. “Por que todos os países são obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade?”, insistiu Lula.
“Por que não foi o iene, o real, o peso? (…) Hoje um país precisa correr atrás de dólar pra exportar, quando poderia exportar na própria moeda.” Ele fez o pronunciamento na cerimônia de posse da ex-presidente Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), na manhã de hoje, no horário de Xangai.
Aplaudido, Lula sugeriu a Dilma que tenha a “paciência” dos chineses. “Não pode ter pressa, Dilma, porque em economia a gente não pode ter pressa. Você está num país em que, se tem uma coisa que se cuida bem aqui, é paciência.”
Mencionando o bloco econômico formado pelo próprio Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, questionou ainda: “Mas por que um banco como os Brics não pode ter uma moeda que possa financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre o Brasil e os outros países do Brics?”
Yuan e real, sem o dólar
Em 29 de março, quando empresários brasileiros visitaram a China, os asiáticos deram início a um processo no sentido sugerido hoje por Lula. A China autorizou a subsidiária brasileira do Industrial and Commercial Bank of China (ICBC, ou Banco Industrial e Comercial da China) a fazer a compensação direta de yuans para real.
O sistema chamado clearing house (arrumação da casa, em tradução livre) é condição para viabilizar operações comerciais e financeiras diretamente entre nas duas moedas, permitindo que o dólar seja descartado nas transações.
A redução da dependência do dólar e expansão da circulação do yuan está no horizonte das políticas estratégicas da China, o que desafia a hegemonia dos Estados Unidos. O que não sabe é qual será a abrangência da reação dos Estados Unidos diante dessa política.
A China governada por Xi Jinping assinou acordos com Arábia Saudita e Rússia para usar o yuan no comércio. A estratégia faz parte da tentativa de mudança de eixo do mundo, do ocidente para o que seria uma nova ordem euroasiática. A construção dessa nova realidade está sendo impulsionada pela guerra na Ucrânia.
Publicado originalmente na “Rede Brasil Atual”