Ao tentar ser tigrão na Câmara, Paulo Guedes ganhou tatuagem na testa: “tchutchuca”. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 4 de abril de 2019 às 11:56
O ministro da Economia, Paulo Guedes Foto: SERGIO LIMA / AFP

Os comentaristas da Globonews demonstram estar mais ofendidos do que Paulo Guedes em razão do que lhe disse o deputado federal Zeca Dirceu, na Comissão de Constituição e Justiça.

Incrível essa análise do time de comentaristas da emissora porque, como eles cobrem o Congresso Nacional já há bastante tempo, deveriam saber que Zeca Dirceu não foi além do que costuma ser o duro e muitas vezes irônico debate parlamentar.

Não houve nada demais no uso da expressão tchutchuca para definir o comportamento de Paulo Guedes em relação aos bancos.

Uma simples pesquisa no Google sobre a palavra, popularizada pelo Bonde do Tigrão nos anos 90, revela que seu significado é de menina bonita, delicada, frequentadora de bailes funks.

Ofensa seria se Zeca Dirceu chamasse Paulo Guedes de cachorra, outra palavra que a antiga banda de funk popularizou.

O que o deputado federal disse é que Paulo Guedes propõe algo muito duro para os aposentados e se comporta docilmente com os bancos.

É uma comparação absolutamente pertinente.

O ex-senador Roberto Requião usava esse temo já nos anos 90, em relação a seu conterrâneo Álvaro Dias, também senador.

Ele dizia que Álvaro Dias era tigrão no Paraná e tchutchuca em relação a Fernando Henrique Cardoso.

Álvaro ouviu algumas vezes, mas nem por isso abandonou o plenário nem xingou a mãe e a avó de Requião.

Paulo Guedes tinha, no entanto, motivos para se irritar na Comissão de Constituição e Justiça, mas não com a suposta ofensa ou oposição, que fez o seu papel, com competência. Ele tem motivos para estar irritado com a falta de articulação política do governo.

Salvo três gatos pingados, os parlamentares não apareceram para defender o ministro.

Alguns acham que o PSL, o partido de Jair Bolsonaro, falhou por não conhecer direito as regras do jogo parlamentar.

Segundo essa mesma análise,  já os mais experientes abandonaram o ministro aos tigrões porque queriam, na verdade, demonstrar que não têm compromisso de defender o governo.

Em outras palavras, o governo está ausente do Congresso Nacional. E sem apoio no parlamento, ninguém governa.

Que medida o governo Bolsonaro aprovou na Câmara ou no Senado desde que assumiu? Nenhuma.

E agora os comentaristas da Globonews — curioso, eles são tantos, mas falam todos a mesma coisa — vão querer culpar a oposição por fazer bem o seu papel?

A preocupação dos patrões desses comentaristas é com a reforma da Previdência, e para isso movem toda a sua máquina de propaganda para defender quem pode lhes entregar a encomenda.

E que encomenda!

Não vai gerar emprego, como os comentaristas mentem, mas proporcionará ganhos espetaculares aos banqueiros e àqueles que apostam com eles.

Os comentaristas da Globonews sonegam do público uma análise mais consistente: a reforma da Previdência está fazendo água. Não dizem que a confusão de ontem é consequência, não causa.

No Congresso, ninguém quer se arriscar a defender uma proposta dessas, que, todos sabem, agrada aos banqueiros, que terão dinheiro barato e de longo prazo para trabalhar, com o sistema de capitalização.

No horizonte, portanto, até agora, só há uma mudança em curso: Paulo Gudes passará a ser conhecido pela referência “tchutchuca”.

E não é ofensiva, é apenas a lembrança da categoria a que serve: o sistema financeiro. E os parlamentares, para sobreviver, não podem ser flagrados com o mesmo compromisso.

Paulo Guedes colocou a bola em campo — bola que é dele — e quer que todos os parlamentares entrem no jogo.

Os deputados, inclusive os aliados ao governo, deram a responsa a ele: vá brincar com os banqueiros.

Hoje é mais fácil Paulo Guedes sair do governo do que a reforma ser aprovada. E não adianta tentar ser tigrão na Câmara. Ele continuará a ser visto com a thutchuca dos banqueiros.