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Por Alceu Castilho
Estava lendo sobre Dalton, o professor de Zootecnia que manteve durante décadas Madalena Gordiano (em um quarto pequeno em Patos de Minas) como trabalhadora doméstica, em condições análogas à escravidão. Ela foi libertada no fim de novembro.
O Fantástico contou essa história na noite de ontem. Mostrou Madalena finalmente andando em um parque. Falando do dinheiro (dela) que agora ela poderá administrar. Pois antes o professor — segundo o Ministério Público do Trabalho — o confiscava.
Bem. Dalton Cesar Milagres Rigueira, professor universitário em Patos de Minas, formou-se em Viçosa (MG). Não é de família rica, pelo que pude apurar. Pai e mãe (que adotou ilegalmente Madalena quando ela tinha 8 anos) são sócios numa auto elétrica.
O que mais me chamou a atenção foram as dedicatórias em sua tese de doutorado, defendida em 2014 na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Os agradecimentos começam com as seguintes palavras: “A Deus, por me guiar nesta caminhada”. (Mais à frente ele insere uma epígrafe atribuída a Chico Xavier: “O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum… é amar mais ou menos”.)
Depois ele agradece à UFMG. À empresa do agronegócio que permitiu a realização do experimento — algo sobre plano de nutrição para leitões desmamados.
Em seguida ele agradece ao seu orientador e a outro professor. Ato contínuo, à esposa Valdirene — igualmente investigada, como ele, por diversos crimes relacionados à exploração de Madalena.
As filhas, os pais e irmãos também são lembrados. Muito justo.
Como era de se esperar, Madalena, definida pela defesa do professor como “praticamente alguém da família”, não aparece entre os homenageados. É ela a grande ausente.
Dalton agradece ainda a uma mulher que o hospedou em Belo Horizonte. A dois professores “pelas caronas”. A todos os funcionários da granja que o ajudou na pesquisa. Menciona dois amigos.
Por fim, encerra os agradecimentos com as seguintes palavras:
“Aos suínos, meu eterno respeito”.