O Ministério da Defesa ainda não emitiu oficialmente uma nota pública sobre a operação da Polícia Federal (PF) na última quinta-feira (8), que resultou em buscas e apreensões nas residências de generais de quatro estrelas, incluindo dois ex-ministros da Defesa, além da detenção de outros militares de patentes inferiores.
Jair Bolsonaro (PL), ex-ministros do governo dele e militares, foram alvo da operação da PF que investiga uma organização criminosa envolvida em uma tentativa de golpe de Estado e na abolição do Estado Democrático de Direito, com o objetivo de obter vantagens políticas e manter o ex-capitão no poder.
A única declaração disponível foi uma breve e protocolar do ministro José Múcio Monteiro: “Cabe às Forças Armadas apoiar a decisão da Justiça”.
Conforme informações do colunista Lauro Jardim, do Globo, nos bastidores e em conversas privadas, há um discurso alinhado entre os Altos Comandos das três forças e José Múcio. Esse discurso pode ser resumido em três pontos-chave:
- O material obtido pelas investigações da PF é substancial, mas teria comprovado que as Forças Armadas não apoiavam a ideia de um golpe. Mensagens do general Braga Netto, criticando intensamente o então comandante da Aeronáutica como “traidor da Pátria” e o do Exército como “cagão”, seriam evidências disso.
- Houve desconforto e constrangimento devido à participação de muitos colegas de farda e de uma mesma geração na articulação, além da exposição pública. Apesar disso, a operação teve um aspecto positivo ao personalizar a suspeição, tornando os envolvidos identificáveis para a Justiça.
- As Forças Armadas não se oporão a qualquer decisão da Justiça. Isso significa que se os suspeitos forem presos, independentemente de quem sejam, será respeitado.
Embora seja incontestável que não tenha ocorrido um golpe e que os comandantes do Exército e da Aeronáutica da época não tenham dado qualquer sinal verde para um desarranjo institucional, a investigação revela um claro ânimo golpista entre oficiais de alta patente.
Esse cenário se evidencia com o material divulgado na última quinta-feira (8) em relação ao comandante da Marinha, Garnier dos Santos, e a um proeminente general de quatro estrelas do Exército na época, o general Estevam Theóphilo, chefe do Comando de Operações Terrestres, responsável por todas as operações de tropas do Exército no Brasil e no Exterior.
Conforme a decisão de Alexandre de Moraes, que fundamentou a operação da PF, “no dia 9 de dezembro de 2022, o general se reuniu com o então Presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada e, de acordo com os diálogos encontrados no celular de Mauro Cid, teria consentido com a adesão ao Golpe de Estado desde o que presidente assinasse a medida.”. Ou seja, estava disposto a botar as tropas na rua para minar o estado de Direito.