Após 3 meses de denúncias da Vaza Jato, nenhum sinal de reação do STF. Por Ricardo Kotscho

Atualizado em 9 de setembro de 2019 às 18:57

Publicado no Balaio do Kotscho

STF. Foto: Nelson Jr./SCO/STF

POR RICARDO KOTSCHO

Como aconteceu em todas as revelações anteriores feitas pelo The Intercept, nos últimos três meses, contra os crimes praticados pela Lava Jato ao longo de cinco anos, um silêncio ensurdecedor toma conta do Supremo Tribunal Federal.

Um ou outro ministro, isoladamente, ainda se atreve a fazer alguma alguma crítica ao modus operandi de Moro & Cia., mas o STF, como instituição, faz de conta que o assunto não existe.

Tudo é “normalizado” de um dia para outro e o assunto some do noticiário da imprensa até surgir a próxima denúncia, que terá o mesmo destino.

No próprio domingo, quando novas revelações foram publicadas pelo Intercept, em parceria com a Folha, mostrando a trama para vazar os grampos com áudios de Lula e Dilma, que levaram ao golpe de 2016, o escândalo foi logo abafado pelo noticiário esportivo e a nova cirurgia do presidente.

Até mesmo nas redes sociais, foram tímidas as reações aos diálogos anti-republicanos dos procuradores de Curitiba.

Na verdade, só a direção do PT cobrou uma posição do STF, mas até o momento em que escrevo não obteve nenhuma resposta.

Foram as mais graves denúncias feitas até agora, ao desmontar a tese de Sergio Moro, que justificou  a divulgação dos áudios por temer que a nomeação de Lula para o ministério de Dilma era uma manobra para obstruir a Justiça e impedir a prisão do ex-presidente.

O que Lula buscava para aceitar a Casa Civil era reaproximar o governo do PMDB de Temer, para evitar o impeachment, que acabou se consumando, “com Supremo com tudo”, nas palavras proféticas de Romero Jucá.

Com o controle do Congresso, do STF e da mídia, estava tudo armado na Lava Jato para levar Lula à prisão e impedi-lo de disputar as eleições presidenciais do ano passado.

Era este o objetivo desde o início da operação comandada por Sergio Moro, que foi contemplado com um ministério pelo governo eleito graças à Lava Jato.

Por que agora estas forças iriam admitir uma revisão do processo de Lula e permitir que ele saia da prisão já este mês, como aconteceria se as leis em vigor fossem cumpridas?

Como o próprio Deltan Dallagnol disse nas gravações, trata-se de um processo político, muito acima das “filigranas jurídicas”.

Isso só pode acontecer num Estado de exceção, anterior à posse do atual governo miliciano-militar-evangélico, que simplesmente não admite a libertação de Lula, e ponto final.

Se alguém ousar romper esta aliança, Bolsonaro logo acena com a ameaça da “volta do PT” e aponta para a sua retaguarda, onde as Forças Armadas estão sempre de prontidão para “a garantia da lei e da ordem”.

Sem oposição nem povo para reagir ao avanço da destruição do Estado de Direito, assistimos ao avanço lento, gradual e seguro da implantação de uma nova ditadura, não mais dos generais, mas agora de um tenente expulso do Exército, ex-deputado medíocre deputado do baixo clero.

Jair Bolsonaro não era o Plano A de ninguém fora dos quadros da extrema direita porra louca.

Mas, na falta de um concorrente competitivo para derrotar o PT, servia qualquer um.

Está aí o resultado. Deu nisso.

Vida que segue.