Por Leonardo Sakamoto
O mundo da política sabia da negociação entre Marta Suplicy e o presidente Lula para que ela voltasse ao PT e concorresse à Prefeitura de São Paulo como vice de Guilherme Boulos (PSOL) tanto quanto sabe da tentativa de Ricardo Nunes (MDB) de conseguir o apoio de Jair Bolsonaro.
Mesmo assim, diante dos sinais de que a chapa Boulos-Marta vai vingar, o prefeito faz de conta que foi surpreendido. Pura encenação de vitimismo para tentar extrair alguma compensação eleitoral.
Questionado sobre o assunto nos últimos meses, Nunes dava a entender que confiava que sua secretária de Relações Internacionais não iria abandonar a sua reeleição. Mas sabia do risco que a sua aproximação com Jair Bolsonaro causaria em sua relação com Marta. A ex-senadora, ex-prefeita e ex-ministra tem ojeriza ao ex-presidente, como uma parcela dos paulistanos.
Pois, para muita gente, isso significa o distanciamento completo de Nunes do discurso que o elegeu, como vice de Bruno Covas.
A imagem de traidor é uma das piores que podem ser atribuídas a um político. E tão logo a informação sobre Marta ter aceitado o convite de Lula passar a circular, redes sociais começaram a ataca-la dessa forma.
Mais do que isso: buscaram conectar o caso à separação dela de seu ex-marido, o deputado Eduardo Suplicy. Na época, ela foi duramente atacada por conta disso, seguindo o nosso padrão machista.
Vale lembrar que mulheres que são figuras públicas, principalmente na política, tem ataques contra si potencializados pela misoginia violenta e covarde.
A questão é que será um tanto quanto irônico se Nunes apelar a isso.
Na eleição de 2020, Bruno Covas disse o que achava daquele que, agora, Nunes corteja: “Anulei meu voto na eleição presidencial de 2018, por não ver no Bolsonaro nenhum discurso que agregasse valores democráticos”. Os atos golpistas de 8 de janeiro provam que o falecido prefeito estava certo.
Como explicar a quem acreditou em Bruno que, agora, o vice dele está implorando apoio de Bolsonaro? Marta não tem obrigação de bater continência enquanto Nunes negocia com alguém que tentou golpear a democracia.
Originalmente publicado no Uol
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