Por Moisés Mendes
Arthur Lira tomou café da manhã com Lula no Alvorada nesta segunda-feira. Esperavam que saísse falando em trégua. Saiu fazendo ameaças.
Disse à imprensa, com a frase abaixo, que o apoio eventual do centrão talvez não se mantenha sem a correção de falhas no atual modelo:
“O combustível está acabando”.
O combustível seria a dinheirama das emendas, que foi adotada por Bolsonaro, com Lira como capataz, e se mantém com Lula chantageado.
Lira foi dizer a Lula que é preciso recalibrar a liberação do dinheiro e também fazer mais concessões à direita dentro do governo.
Lula terá de fazer reacomodações nos ministérios. Lira alertou: se não for assim, talvez ele não consiga controlar o cangaço.
O alagoano foi deixar claro a Lula que comandava o novo cangaço na Câmara, com o orçamento secreto derrubado pelo Supremo (mas as emendas sobrevivem) e que agora não controla mais os cangaceiros.
Se precisasse de tradução, a mensagem seria essa: eu faço trabalho duplo, para a direita e para o governo, mas não estou dando conta dessa missão, porque as demandas não param de aumentar.
A chantagem, como parte da estratégia de sabotagem e estrangulamento do governo, pode mesmo estar fora do controle.
Lira ampliou e geriu o esquema das emendas que quase reelegeu Bolsonaro. Mas está dizendo que o centrão pode vir a ter vida própria, sem a necessidade de um grande gestor.
O que ele diz é que, assim como o bolsonarismo pode sobreviver sem Bolsonaro, o lirismo talvez siga em frente sem ele.
Lira também disse à CNN que Lula precisa ter uma base “cristalina”, como se isso fosse possível:
“Hoje o governo tem contado com a boa vontade desses partidos que estão votando republicanamente”.
A chantagem que Lira coordena seria coisa de políticos republicanos. Muitos jornalistas ditos liberais pensam a mesma coisa.
O jornalismo da grande imprensa manda dizer todos os dias a Lula que ele precisa liberar o que o centrão pede, para poder governar com a direita.
E Arthur Lira, o líder do cangaço, finge estar cansado para continuar fazendo jogo duplo e pedir sempre mais. Lira quer mais.
Está cercado pela Polícia Federal, não promete entregar o que combinou com o governo (e por isso não sabe se a reforma tributária passa na Câmara) e adverte, como blefe, que sem o seu comando os cangaceiros podem virar black blocs.
Originalmente publicado por Blog do Moisés Mendes
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