Por Jeferson Miola
Lira faz jogo duplo. Ao mesmo tempo em que achaca e chantageia o governo para aumentar o controle de verbas do orçamento e os fundos públicos, ele atua na presidência da Câmara como o grande artífice da ofensiva política e ideológica do extremismo bolsonarista.
Nas horas vagas, ele se reúne com Waldemar Costa Neto, Bolsonaro e Tarcísio de Freitas para construir a candidatura anti-Lula para 2026.
Nas votações sobre temas econômicos, fiscais e tributários, Lira presta obediência e fidelidade à Faria Lima, às finanças e a grupos de interesse. Ele só empresta o apoio da bancada sob sua influência para a aprovação das iniciativas do Planalto que sejam palatáveis ao mercado.
Em questões democráticas, de direitos humanos, justiça tributária e garantias constitucionais, como fake news, marco temporal de terras indígenas, marco do saneamento, anistia a golpistas, fim de desonerações, saídas temporárias de presos etc, Lira alinha sua base parlamentar com o bloco ultraliberal de direita e extrema-direita.
Na abertura do ano legislativo, em resposta aos rumores brasilienses de que perdera poder e seria apenas um “pato manco” na segunda metade na presidência da Câmara, Lira fez um discurso ameaçador [5/2].
“Errará grosseiramente qualquer um que aposte na inércia desse corpo legislativo pela proximidade das eleições ou por especulações sobre a nova mesa diretora”, avisou.
E, para não deixar dúvidas sobre a disposição de combate, ele emendou: “Não subestimem esta Mesa Diretora, não subestimem os membros do parlamento e desta legislatura”.
Ameaça feita, ameaça cumprida: o governo não teve nenhuma facilidade no Congresso, mesmo cedendo às sucessivas imposições do Lira, como o distanciamento do ministro Alexandre Padilha da interlocução direta com ele na articulação política.
Nos últimos dias Lira articulou um grande arsenal de iniciativas que contrariam interesses do governo e da debilitada democracia.
Ele pautou a tramitação em regime de urgência do projeto que invalida delações e também do PL que equipara aborto a homicídio; acelerou a tramitação da PEC das drogas, postergou por pelo menos 180 dias a discussão sobre fake news, facilitou o trâmite dos projetos que concedem anistia a golpistas e do PL que penaliza ativistas sociais por ocupações.
Sem amparo no regimento, Lira pulverizou a relatoria dos projetos sobre a legislação tributária entre vários deputados para reforçar seu poder e reinar como interlocutor privilegiado nas discussões com o governo, mercado e grupos de poder.
À medida que se aproxima o fim do seu mandato na presidência da Câmara, Lira avança as iniciativas que consolidam a ofensiva política e ideológica da extrema-direita com agendas estratégicas do bolsonarismo.
Com sua postura lança-bombas, Lira termina o mandato legando uma realidade política e institucional do país bem à feição dos objetivos do extremismo.
Publicado originalmente no blog do autor
Chegamos ao Blue Sky, clique neste link
Siga nossa nova conta no X, clique neste link
Participe de nosso canal no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link