As 47 testemunhas do plano do cangaço bolsonarista. Por Moisés Mendes

Atualizado em 9 de agosto de 2023 às 22:35
Ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques. Foto: William Borgmann

Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”

Depende de um grupo de policiais o desvendamento da trama montada pelo fascismo para tentar impedir a votação de eleitores de Lula, no segundo turno no Nordeste.

São os 47 policiais rodoviários federais, com cargos de chefia, que participaram da reunião do comando golpista da PRF em Brasília no dia 19 de outubro do ano passado.

Esse grupo terá de detalhar o que já se sabe. Que ali naquele dia o então diretor da PRF, Silvinei Vasques (foto), informou que a corporação precisava ter um lado. O lado era o de Bolsonaro.

Deveria inclusive cometer o crime de bloquear estradas. Ali ficou claro que a liderança da instituição havia sido tomada por cangaceiros das estradas.

A jornalista Malu Gaspar conta o que aconteceu, no Globo, e indica o caminho que o ministro Alexandre de Moraes já está percorrendo: muitos dos 47 policiais serão ouvidos, porque sabem tudo o que foi planejado naquele dia.

É preciso ouvir com prioridade o então coordenador de análise de inteligência da PRF, Adiel Alcântara. Malu conta que Alcântara havia comentado em mensagem a um subordinado, depois da reunião, que Vasques “disse muita merda”.

Blitze da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Foto: Reprodução

A merda maior era a decisão de engajar a PRF, sem preocupação com as consequências, a um esquema determinado pelos fascistas no poder: impedir que Lula vencesse no Nordeste.

Vasques comandou a reunião com os 47 policiais, todos com funções de chefia nos Estados, com sua voz impositiva, segundo os participantes. Queria um “policiamento direcionado” em favor do chefe candidato à reeleição.

É mais do que improvável, é impossível que todos os 47, mesmo que fossem aliados incondicionais da chefia na época, tenham decidido manter até hoje a mesma posição pró-golpismo.

O mesmo Vasques impositivo do 19 de outubro entrou no Supremo, no dia da eleição no segundo turno, no domingo 30 de outubro, chamado pelo ministro Alexandre de Moraes. Estava fardado como se estivesse em guerra e com quatro assessores como se fossem guarda-costas. Todos armados.

A jornalista Thais Bilenki contou em podcast da revista Piauí que Vasques chegou de cabeça empinada, com os seus seguranças, e saiu com o rabo entre as pernas.

Foi naquele encontro que Moraes disse o que todo mundo já sabe, porque a frase teve compartilhamento em todos os jornais: “Ou você para os bloqueios, ou você vai pra cadeia”.

Vasques havia ignorado, no dia da eleição do segundo turno, uma ordem de Moraes para que a PRF não bloqueasse estradas.

O ministro deu 20 minutos ao golpista. O chefe havia sido humilhado diante dos subordinados (que levara como testemunhas?). As estradas foram desbloqueadas, mas depois do estrago feito.

Nessa terça-feira, finalmente, Vasques foi para a cadeia. Nove meses e meio depois, está preso o sujeito que decidiu enfrentar, como se mandasse no ir e vir, o mais bravo ministro do Supremo.

Outros que tentaram fazer o que Vasques tentou estão certos de que terão o mesmo destino.

Espera-se que se juntem ao policial golpista os grandes empresários que desafiaram, com a mesma petulância, o Supremo, a eleição e a democracia.

Devem ser contidos, finalmente, para que os presos não sejam apenas os integrantes da estrutura operacional da extrema direita, sem relevância no grupo que idealizou e planejou, dentro do Planalto, o golpe que não deu certo.

AMIGOS

As conexões do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques podem abrir várias porteiras, se ele decidir falar.

É catarinense e homem de confiança do núcleo da extrema direita no Estado mais bolsonarista.

Era obediente às ordens de Anderson Torres transmitidas a partir da Polícia Federal.

É amigo de Flávio Bolsonaro.

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