As aglomerações nos quartéis desafiam o jornalismo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 7 de novembro de 2022 às 6:27
Bolsonaristas em frente ao quartel do bairro do Bacacheri, em Curitiba. Foto: Reprodução

Por Moisés Mendes

Os mais importantes fatos jornalísticos depois da eleição, com o aparente fim dos bloqueios de estradas, são as aglomerações de gente de verde e amarelo diante de quartéis e QGs do Exército.

Mas os fatos, disseminados pelo país, são ignorados pela grande imprensa. E só a grande imprensa poderia tentar cobri-los, já que essa é uma tarefa improvável para veículos progressistas.

Por que os grandes jornais, inclusive os gaúchos, não vão até as aglomerações para ouvir as pessoas que estão ali afrontando a Constituição e a democracia?

Sem essa cobertura, os jornais abrem mão de uma obrigação da imprensa. Precisamos saber quem são e o que pensam os que se aglomeram.

É simplório achar que uma cobertura daria voz a golpistas e que por isso não deve ser feita.

Se fosse assim, o jornalismo ficaria em casa, porque a ilegalidade é a marca de fatos presentes no dia a dia dos repórteres no mundo todo.

Jornalistas não lidam só com gente de bom senso ou com personagens de gestos altruístas e humanistas. Não mesmo.

Mas é razoável pensar que também a grande imprensa não cubra as aglomerações por medo das reações.

Os próprios jornais sabem que as aglomerações são resultado da postura histórica da grande imprensa, principalmente desde 2016. O jornalismo golpista ajudou a fomentar as ações desse pessoal.

A não-cobertura das aglomerações representa o fracasso do jornalismo das corporações e uma rendição das empresas à imposição do golpismo.

A impossibilidade da cobertura, que pode ser alegada pelos jornais, é a prova de que os ajuntamentos são ameaçadores e põem em risco o cotidiano da democracia, mesmo sem golpe.

O jornalismo que entra, com todos os riscos, em cenários de guerra e em áreas dominadas pelo tráfico, não consegue frequentar os espaços controlados pelas aglomerações bolsonaristas.

É a maior prova de que as reuniões diante de prédios militares não são expressões das liberdades e da democracia, mas atentados contra a democracia.

Não há liberdade em territórios interditados pelo extremismo e fechados ao acesso da imprensa.

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QUAL É A VANTAGEM?
A grande dúvida, que só o tempo poderá responder, é se Bolsonaro será ou não comido pelos próprios companheiros de direita e até de extrema direita.

A dúvida é sustentada por uma pergunta elementar: qual será a vantagem de alguém que pode construir uma careira autônoma, se ficar ligado a Bolsonaro?

O que políticos que foram alugados para o apoio a Bolsonaro irão ganhar se orientarem seus passos inspirados num perdedor que nunca liderou nada

Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES

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