Como o projeto SAMBA planeja trazer para o Brasil a avançada cultura europeia do ciclismo
Outro dia fizemos uma lista das 24 melhores atrações de Londres. Na letra B estavam as Boris Bikes, bicicletas públicas que ficam espalhadas em pontos estratégicos da capital inglesa. Onde você encontrar um estacionamento de magrelas que carregam a logomarca do banco Barclays terá encontrado uma estação de retirada e de devolução das bicicletas. A ideia implantada em 2010 é um grande sucesso que conta com 570 estações e 8 000 bikes. Quando vi de perto o funcionamento das Boris Bikes, em 2011, nem passou pela minha cabeça vivenciar a mesma experiência no Brasil.
Qual não foi a minha surpresa quando, saindo do parque Ibirapuera, observei um casal pedalando duas bicicletas laranjas parecidíssimas com as BB. As Bikesampas (nome que receberam as versões paulistanas das Boris Bikes) tem o mesmo formato daquelas e também carregam o nome de um banco nas rodas traseiras.
Um tanto desconfiado perguntei ao casal se eles haviam alugado aquelas bicicletas no bicicletário do parque. A resposta não foi a que eu esperava, mas foi a que eu queria ouvir: “Não. Pegamos numa rua aqui do lado, onde elas ficam presas”. Meus olhos brilharam.
(MAIS: De bicicleta na capital do país mais feliz do mundo)
(MAIS: Paris em duas rodas)
Essa é uma iniciativa do projeto SAMBA (Solução Alternativa para Mobilidade por Bicicletas de Aluguel) desenvolvido pela empresa Serttel. Nas cidades de Porto Alegre, Petrolina e Sorocaba é uma parceria com as prefeituras que torna possível a implementação da ideia. Já no Rio de Janeiro e em São Paulo o banco Itaú também resolveu participar do projeto e colocou o seu nome sobre as rodas traseiras das bicicletas (tal qual o Barclays nas Boris Bikes).
O SAMBA não é um projeto novo: entrou em funcionamento em 2009. No entanto, somente no ano passado que ele deslanchou. O Rio de Janeiro foi a primeira cidade a receber as bicicletas laranjas (apelidadas de “laranjinhas” pelos cariocas) em suas ruas. A ideia deu tão certo por lá que em maio foi a vez do estado de São Paulo receber o programa desenvolvido pela Serttel. A capital e Sorocaba foram as cidades escolhidas. Sábado agora, dia 22, as ruas e avenidas de Porto Alegre sentirão pela primeira vez as rodas das Bikepoas.
O projeto foi idealizado para auxiliar nos percursos de curta distância. No Rio as estações estão localizadas – salvo poucas exceções – na zona sul. Em São Paulo, adivinhem só – zona sul. Para as outras regiões nada. Mas tudo bem, vamos esperar um pouco mais antes de tirar conclusões precipitadas, afinal o projeto acabou de ser implementado e precisa de tempo para se desenvolver. A promessa é que até 2014 sejam trezentas estações distribuídas também pelo centro e zona leste da cidade paulistana.
Para usar as magrelas você deve fazer um cadastro no site do projeto e realizar um depósito de dez reais pelo cartão de crédito. Ao localizar uma estação onde as bikes ficam trancadas, você fará uma operação pelo telefone para poder liberar uma delas. O único problema é que se você não tiver celular ou não tiver créditos não conseguirá destravar as magrelas. Considerando que você não esteja nessa situação, os primeiros 30 minutos de pedalada são de graça. Após isso paga-se cinco reais por cada meia hora – modelo de funcionamento igual ao das Boris Bikes. A devolução da bicicleta pode ser feita em qualquer estação que tenha espaço para isso – não há necessidade de ser no mesmo ponto em que você a retirou.
No Rio o projeto parece que deu certo; em São Paulo ainda não pegou. Será preciso ainda mais investimento da prefeitura da capital paulista em estrutura para os ciclistas para que possamos ver as laranjinhas pelas ruas com frequência. Vale notar que já é possível observar os esforços do governo nesse sentido: expansão da ciclovia da Marginal Pinheiros; expansão das ciclofaixas que são abertas aos domingos; obras na calçada que separa as duas pistas da Faria Lima e que proporcionarão uma via exclusiva para quem anda de bike.
Como comentamos num texto sobre a Dinamarca e sua cultura ciclista, o impulso inicial para que Copenhague se tornasse a cidade referência em bicicletas foi justamente se enxergar num cenário onde não era mais possível alimentar o ideal automobilístico. Era necessário uma solução alternativa – e ela foi encontrada exatamente nas bikes. Se continuarmos com esses investimentos nas magrelas, porque não sonhar em alcançar resultados semelhantes ao da capital dinamarquesa – e em breve? Eu acredito. Você também?