As críticas e o desafio do PT nas eleições 2024. Por Valter Pomar

Atualizado em 9 de outubro de 2024 às 9:40
Bandeira com a logo do Partido dos Trabalhadores (PT) – Foto: Reprodução

Por Valter Pomar, em seu blog

A Comissão Executiva Nacional do PT, reunida no dia 8 de outubro, soltou uma nota sobre as eleições municipais.

A nota pode ser lida aqui: Nota da Comissão Executiva Nacional do PT sobre as eleições municipais | Partido dos Trabalhadores

Como é óbvio, esta nota não é um balanço do processo eleitoral, que só será possível depois que concluir o segundo turno.

Aliás, nosso esforço principal, neste momento, é ganhar o segundo turno onde estamos disputando. Se tivermos êxito nisso – especialmente nas cinco capitais – nosso balanço será bem diferente daquele que é possível fazer agora.

Feita esta ressalva geral, alguns comentários pontuais sobre o que é dito na nota da executiva.

Primeiro, a nota está correta criticar as “emendas parlamentares bilionárias” e o uso das “máquinas públicas municipais” (e estaduais, faltou dizer. Em São Paulo, por exemplo, o governo Tarcísio foi fundamental para a ida de Nunes ao segundo turno das eleições).

Mas é preciso ir além: a distorção no sistema político é mais profunda do que isto. Para dar alguns exemplos, continuam existindo o financiamento privado, o dinheiro ilegal, a compra de votos. A violência política, o oligopólio da comunicação e as empresas de fake news agiram com toda força. E, no caso dos vereadores, o voto nominal favorece a direita. É esse conjunto de fatores que ajuda a explicar por quais motivos, quando nós somos governo, o efeito disto é um; quando a direita governa, o efeito é outro.

O governador do Estado de SP Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o atual prefeito paulista e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) – Foto: Reprodução

Segundo ponto: compreensivelmente, a nota da executiva nacional escolheu não falar nada acerca da nossa cota de responsabilidades, embora admita “eventuais equívocos”. Não sei se “equívocos” é a palavra mais adequada, mas precisamos mesmo debater questões como a escolha de candidaturas, a linha de campanha, a política de alianças, os critérios na distribuição do fundo eleitoral e a agenda do companheiro Lula. Cada um desses aspectos e outros que não foram citados, precisam ser objeto de análise detalhada de nossa parte.

Terceiro ponto: o texto da executiva fala que o resultado de 2024 foi “o início da recuperação eleitoral do PT nos municípios”. Acho prematuro concluir isso. Pois se existir um “equívoco” na linha política, a “recuperação” só vai ocorrer se a linha mudar. Aliás, mudança que na minha opinião precisa começar ontem, seja quando nos posicionarmos naqueles segundos turnos de que não participamos, seja para vencermos o segundo turno onde há candidaturas petistas disputando.

Quarto ponto: o texto da executiva fala que as eleições ocorreram num “cenário que mais uma vez favoreceu a eleição ou reeleição de candidatos das legendas da centro-direita e direita dominantes no Congresso Nacional”. O problema desta formulação é que o cenário das eleições de 2024 inclui elas terem sido realizadas no meio do governo Lula 3. E nossos resultados, desta vez, foram piores do que os resultados obtidos no meio do governo Lula 1, no meio do governo Lula 2, no meio do governo Dilma 1 e foram piores, inclusive, do que os resultados que obtivemos em 2016, depois do golpe.

Moral da história: precisamos falar do governo Lula, incluindo a sua relação com as tais “legendas dominantes” no Congresso.

Quinto ponto: o documento elenca uma série de pontos positivos no desempenho do PT. Alguns destes pontos precisam ser melhor analisados (por exemplo, a alta concentração das prefeituras em pequeno número de estados); outros pontos precisam ser debatidos em profundidade (como o desempenho desastroso em Salvador, a não ida para o segundo turno em Teresina, assim como as alianças em Recife e Rio de Janeiro); alguns precisam deixar de ser naturalizados (como é o caso de termos eleito inúmeros vices de partidos de direita). Mas há um ponto citado de passagem, que merece ser especialmente rediscutido pelo nosso Partido: trata-se da Federação, que em geral causou mais danos que vantagens.

De toda forma, são assuntos para debatermos depois do segundo turno. Até porque será melhor, para o país e para nosso Partido, que o balanço seja feito em ambiente de real vitória.

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