De uma lista de perguntas preparada por Eduardo Cunha ao arrolar Michel Temer como uma de suas testemunhas de defesa, a de número 34 indagava:
“V. Exª tem conhecimento se houve alguma reunião sua com fornecedores da área internacional da Petrobras com vistas à doação de campanha para as eleições de 2010, no seu escritório político na avenida Antonio Batuira 470, em São Paulo, juntamente com o sr. João Augusto Henriques?”.
O juiz de primeira instância Sergio Moro barrou esta e outras 20 perguntas por considerar ‘inapropriadas’.
Com os acontecimentos vindo a galope, poucas semanas depois vem à luz a delação do tal fornecedor da área internacional da Petrobras. É Márcio Faria, ninguém menos que o presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, um braço da empreiteira para obras industriais no Brasil e no exterior. Faria confirmou a reunião e também seu propósito. Na ocasião, Michel Temer tratou de doação para sua campanha em troca de favorecimentos à Odebrecht.
Sem ter mais para onde correr, Michel Temer agora da a seguinte resposta evasiva: “Pode ser que estive sim, pode ser o referido senhor Marcio Faria, mas não posso garantir.”
Marcio Faria não era um pé de chinelo, era responsável pelos contratos de prestação de serviço para projetos com a área de negócios internacionais da Petrobras. Não da para dizer que a quantia negociada tenha sido o troco da pinga. Temer não lembra de nada disso?
O segundo nome contido na pergunta de Cunha censurada por Moro, o ‘sr. João Augusto Henriques’, é empresário e lobista que fazia a ponte para o futuro PMDB/Petrobras. Também ele já confirmou ter havido um contrato de R$ 1 bilhão com a Odebrecht às vésperas das eleições de 2010.
Tanto Eduardo Cunha como o João Augusto Henriques estão presos em Curitiba. Terra onde Moro vetou as perguntas que agora são não só respondidas como divulgadas. Por que tem competido à grande imprensa a responsabilidade de tornar públicas as informações? Porque esse é o pacto.
O andamento de todo o processo do golpe sempre esteve apoiado nos vazamentos das delações. Eles ocorrem nos momentos considerados apropriados, com trechos seletivos, visando determinados personagens, obedecendo um cronograma que nos levará para o calabouço das eleições indiretas.
Quando a delação de Marcelo Odebrecht vier à tona e confirmar os repasses de muitos milhões de reais ao PMDB acertados em jantares no Palácio do Jaburu (o palacete do vice que nunca foi decorativo), Michel Temer será levado ao cadafalso. O país que hoje sabe-se encolhido pelos próximos 20 anos de teto baixo, verá o bastão ser passado para as mãos de um outro presidente, sem poder opinar. E tudo isso por conta de um bando que não aceitou o resultado das urnas em 2014 e que agora perdeu o controle da situação.