Assassinatos, golpes, Caravaggio e psicopatia: “Ripley”, na Netflix, é imperdível

Atualizado em 19 de abril de 2024 às 17:37
Cena de “Ripley”, nova série da Netflix

Se tiver de ver uma série na Netflix, assista “Ripley”.

A história criada por Patricia Highsmith, autora do livro “O Talentoso Ripley” (1955), deu origem a sucessos cinematográficos desde 1960 — o clássico “O Sol por Testemunha”, estrelado Alain Delon e dirigido por René Clément, com música do genial Nino Rota.

Em 1968, Claude Chabrol filmou “Les biches”, com muitos elementos do romance de Highsmith, mas mudou o gênero dos personagens principais. Em 1999, estrelado por Matt Damon e Jude Law, “O Talentoso Ripley” foi um grande sucesso comercial e de crítica, com cinco indicações ao Oscar, dentre elas melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Jude Law.

Em 2024, o charmoso sociopata Tom Ripley é agora interpretado de maneira magistral por Andrew Scott, que fez o papel de Moriarty na série “Sherlock” e do padre gato de “Fleabag”.

O falsário Tom aplicava pequenos golpes e embustes em Nova York, até surgir uma oportunidade ímpar na sua trajetória borderline: resgatar um jovem herdeiro em férias permanentes na Itália.

Richard “Dickie” Greenleaf, playboy e pintor medíocre, estava no dolce far niente financiado pela família milionária, torrando a fortuna paterna na Costa Amalfitana, Itália, junto à linda namorada, Marge, aspirante a fotógrafa e escritora.

A nova versão, em oito capítulos, conta com Dakota Fanning interpretando Marge, com uma participação rápida de John Malkovich e Ann Cusack no elenco. Destaque para o ‘ispettore’ Pietro Ravini, magistralmente interpretado por Maurizio Lombardi. A trilha, com músicas italianas da época e a voz fantasmagórica de Roy Orbison cantando “The Great Pretender”, é a cereja do bolo.

Começa pelas imagens em Nova York do início dos anos 60, que me remeteram ao incrível Edward Hopper e suas leituras da solidão da metrópole americana. Já na Europa há um desfile de texturas, sombras e principalmente as luzes de Roma, Nápoles, Costa Amalfitana e Veneza, que nos levam a um tour sofisticado e cheio de significados pela encantada e mitológica Itália.

Um passeio pela psicopatia de um personagem fascinante, atravessado pelas artes plásticas. De um Picasso em sua desconstrução cubista, multifacetada, ao barroco de Caravaggio em sua eterna dor e sofrimento, expressas em luzes e sobras inigualáveis.

A versão luxuosa em direção de arte e fotografia faz referência aos trabalhos de Giusepe Rotunno, “o mago da Luz”, fotógrafo de Federico Fellini e Luchino Visconti. Um clima noir, assassinatos, muito cigarro, fumaças desenhadas, sangue e tensão se ajustam na última cena desta primeira temporada, um artifício para novas aventuras a ser anunciadas em breve.