O exército israelense aumentou a pressão esta terça-feira (12) contra o Hamas na Faixa de Gaza, afirmando que o grupo radical islâmico está prestes a alcançar um “ponto de ruptura”. Os confrontos continuam obrigando a população civil a abandonar suas casas, em condições humanitárias desesperadoras. A Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) faz uma reunião especial para tratar da situação no enclave palestino.
A ONU e organizações humanitárias pedem a Israel que permita a entrada de mais ajuda na Faixa de Gaza, onde as autoridades israelenses controlam a entrada e saída de caminhões.
Na sexta-feira (8), os Estados Unidos vetaram uma resolução do Conselho de Segurança que apelava a um “cessar-fogo humanitário”. Porém, a pedido dos países árabes e após a visita de mais de uma dezena de embaixadores do Conselho de Segurança ao ponto de passagem de Rafah, entre o Egipto e Gaza, a Assembleia Geral da ONU deve se pronunciar, esta tarde, sobre uma resolução para “um cessar-fogo humanitário imediato”, um texto não vinculativo e que tem todas as possibilidades de ser aprovado.
Durante a noite, o movimento islâmico Hamas relatou confrontos violentos no centro da Faixa de Gaza. A agência palestina Wafa contabilizou 12 mortos e “dezenas” de feridos num ataque aéreo em Rafah, perto da fronteira com o Egito.
Numerosos ataques tiveram como alvo as cidades de Khan Younes, o novo epicentro dos combates, e Rafah, onde dezenas de milhares de pessoas que fogem da violência se concentram agora.
Num discurso na televisão, na noite de segunda-feira (11), o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse que “o Hamas está prestes a alcançar seu ponto de ruptura” e que “o Exército israelense conquista os últimos redutos do grupo”.
“O fato de as pessoas se renderem (…) acelera o nosso sucesso e é isso que queremos: avançar rapidamente”, declarou, por sua vez, o chefe do Estado-Maior do Exército, Herzi Halevi.
A guerra entre Israel e o Hamas entrou no seu 67º dia e foi desencadeada por um ataque sangrento perpetrado pelo movimento islâmico palestino no dia 7 de outubro, em solo israelense, a partir da Faixa de Gaza.
Segundo Israel, 1.200 pessoas, a maioria civis, foram mortas no ataque, durante o qual cerca de 240 pessoas foram sequestradas e levadas para Gaza. Dessas, 137 permanecem em cativeiro, após uma trégua que permitiu a libertação de uma centena de reféns.
O Ministério da Saúde do Hamas afirma que mais de 18.200 pessoas foram mortas nos bombardeamentos israelenses em Gaza, a maioria delas mulheres e menores de idade. O Exército israelense relatou cerca de cem mortes entre seus combatentes.
Pior que a Alemanha na II Guerra
A situação na Faixa de Gaza é “apocalíptica”, alertou segunda-feira à noite o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, para quem o nível de destruição no território palestino é “comparável ou até maior” do que na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.
A ONU relata que mais da metade das casas foram destruídas ou danificadas pela guerra na Faixa de Gaza, onde 85% da população, inicialmente de 2 milhões de habitantes, foi deslocada.
“Cada vez mais pessoas não comem há um, dois, ou mesmo três dias… Falta tudo”, relatou o diretor da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (Unrwa), Philippe Lazzarini.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), os deslocados em Rafah “enfrentam condições terríveis, em locais superlotados, tanto dentro como fora dos abrigos”.
“Não há higiene, não há comida, não há água… Não temos acesso a absorventes higiênicos, temos que usar trapos”, lamenta Samar Shalhoub, 18 anos, que espera uma solução para o conflito.
“Fomos de Gaza para Khan Yunes e depois fomos transferidos para Rafah. Bombardearam a nossa casa e a destruíram. Disseram que Rafah seria um lugar seguro. Não existe lugar seguro”, acrescenta Oum Mohammed al-Jabri, 56 anos, que perdeu sete de seus 11 filhos na guerra.
Na noite de segunda-feira, o Exército israelense anunciou a criação de dois postos de controle adicionais para a inspeção de caminhões na chegada à Gaza através da passagem por Rafah, uma medida que deverá “duplicar”, segundo Israel, a entrada de ajuda.
“Ainda não apoiamos um cessar-fogo porque isso deixaria o Hamas no controle de Gaza, mas apoiamos absolutamente pausas humanitárias adicionais”, disse John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Hutis atacam petroleiro no Mar Vermelho
A guerra em Gaza continua a aumentar as tensões na região, particularmente no Mar Vermelho, ao longo da fronteira libanesa-israelense, e mesmo na Síria e no Iraque, com dois novos ataques contra forças internacionais.
Um míssil disparado de áreas controladas pelos rebeldes hutis atingiu o petroleiro Strinda, de bandeira norueguesa, na costa do Iêmen, sem causar nenhuma vítima, informaram os militares dos EUA durante a noite.
No sábado, os hutis ameaçaram atacar qualquer navio no Mar Vermelho que se dirigisse a Israel se a população da Faixa de Gaza não recebesse ajuda de emergência. Uma fragata francesa abateu dois drones vindos de áreas do Iêmen sob controle dos hutis.
Publicado originalmente no RFI.