Ataques bolsonaristas a Marçal sinalizam Game of Thrones da extrema direita. Por Leonardo Sakamoto

Atualizado em 22 de agosto de 2024 às 11:46
O empresário Pablo Marçal e o ex-presidente Jair Bolsonaro – Foto: Reprodução

Por Leonardo Sakamoto

A luz amarela acendeu no entorno da família Bolsonaro com o crescimento da exposição de Pablo Marçal em sua campanha à Prefeitura de São Paulo. Após o vereador Carlos Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, foi a vez do deputado Eduardo Bolsonaro de criticar o ex-coach e tentar mostrar a seus seguidores que ele não representa a direita.

“Muita gente reclama do PL, mas todo partido tem os seus problemas. E graças a Deus o do PL não é por envolvimento com droga ou PCC”, disse Eduardo após compartilhar matéria do jornal O Estado de S.Paulo mostrando que membros do PRTB, partido de Marçal, estão envolvidos em um esquema de troca de carros de luxo por cocaína o PCC.

“É sério que o mais novo direitista está parecendo dar aquela passada de pano pro ministro depois de tudo que esse senhor fez e continua fazendo, mesmo agora diante de fatos expostos? Pegaram esse código?”, afirmou Carluxo, ao criticar a posição de Marçal, que viu ressalvas no pedido de impeachment de bolsonaristas contra Alexandre de Moraes.

“É amiguinho dele? Você nunca me enganou e não vai ser agora!”, acusou Malafaia no mesmo sentido.

Não precisa ser um gênio para perceber que isso não é para ajudar a candidatura à reeleição do prefeito Ricardo Nunes, apoiado pelo PL em São Paulo e que disputa com o empresário os votos da direita, mas de manter o controle sobre o próprio rebanho.

Se Marçal vence sozinho empunhando os valores (sic) caros à extrema direita, ele não será tributário de Jair. Mais do que isso: vai rachar a extrema direita, que terá um novo líder.

Pablo Marçal de roupa escura, falando e gesticulando
Pablo Marçal – Foto: Reprodução

Vale destacar que, por mais estranho que isso possa aparecer, Bolsonaro não criou o bolsonarismo. Esse grupo da extrema direita sempre esteve aí. O mérito do ex-presidente foi organizar, canalizar as frustrações e os medos, mobilizar e dar um sentido a ele através dele próprio, de suas candidaturas e do seu governo.

Mas, como esse grupo veio, ele pode ir embora. O desejo da família é manter a influência sobre esse naco população e o controle do processo sucessório do patriarca. A princípio, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas está sendo preparado para ocupar o espaço enquanto Jair segue inelegível, mas isso a custo de tributos pagos. Como as chacinas policiais na Baixada Santista, o que não é bolsonarismo moderado, como alguns defendem, mas raiz.

Daí, esse ensaio de Game of Thrones da extrema direita.

Ao dar uma banana para as decisões da Justiça Eleitoral, cometendo infrações reiteradamente, o empresário mostra que não só aprendeu com Bolsonaro, mas foi além.

Aposta que pode vencer mesmo sem se dar ao trabalho de esconder que não sabe nada da cidade que pretende administrar, contando que o eleitorado queira apenas “autenticidade” e entretenimento. Antes, nas campanhas de Jair, havia pelo menos o verniz da tentativa de mostrar conteúdo. Agora, Marçal disse no debate da revista Veja que não iria responder pergunta e que as pessoas lessem depois o que seria postado nas redes sociais.

Mesmo que Marçal passe para o segundo turno e o Bolsonaro componha com ele contra Boulos, ainda assim ficará a impressão de que o seguidores do Capitão tiveram vontade própria. Para quem acredita que controla um grande rebanho, ver o gado se encantar por outro berrante deve ser assustador.

Originalmente publicado em Uol